ao olhar para cima vi primeiro o Deus antigo
que me oferecia mansos burrinhos de atravessar os caminhos enlameados
e beber em lagos coroados de miúdas, doces flores sem cardos.
punha-me a sonhar e logo a sarça ardente voltava e dizia logo Deus:
Não deixes essa vela acesa, basta-me a luz de quando dormes
basta o som do teu respirar.
as crianças obedecem a deuses lá de cima porque lhes disseram que eles sabem da nossa impossibilidade, crónica e inexpugnável de crescer... e sabem ainda,
que não merecemos o colo do baloiço, aquele onde o cruzar dos braços nos raios é um milagre.
sempre quis, ao olhar para cima, e, por vezes, para baixo também, que Deus me aparecesse
como um reconhecível veado, en passant e sem ligar muito
a coisas grandes ou, à gente que passava ou aos pomares ou aos barcos que apitavam urgências.
mas deus envelhecera, perdera cabelo e compostura e dentes e delicadeza, coitado, e ali o via
a segurar as vestes em burel e linho muito áspero com ar lúbrico e saloio meio disfarçado.
perguntei onde andam os designers de deus, encolheu os ombros em gesto perdido e muito atrasado...
ía soprando o seu vento de falsete - seria o Santo Espírito? - e continuava descalço e olhava as raparigas e os belos rapazes, a querer comungá-los a todos e eles assustavam-se, porque eram da aldeia, se fossem da cidade apenas perguntariam se tinha dinheiro, mas Deus não sabia tal.
eu tinha a missão idiota de tomar conta de Deus que queria ser um deus-machine e chicklet,
perdido de si e perdido do Pai, a Deus bastava ali um telemóvel para gerir o imenso mercado das carnes
Atravessava uma crise este Deus de muitos anos, ocorreu-me que pudesse morrer até de novo.
desta vez assassinado outra vez, e sem evangelhos ou cruzes ou sentidos maiores para serem contados-.
que me oferecia mansos burrinhos de atravessar os caminhos enlameados
e beber em lagos coroados de miúdas, doces flores sem cardos.
punha-me a sonhar e logo a sarça ardente voltava e dizia logo Deus:
Não deixes essa vela acesa, basta-me a luz de quando dormes
basta o som do teu respirar.
as crianças obedecem a deuses lá de cima porque lhes disseram que eles sabem da nossa impossibilidade, crónica e inexpugnável de crescer... e sabem ainda,
que não merecemos o colo do baloiço, aquele onde o cruzar dos braços nos raios é um milagre.
sempre quis, ao olhar para cima, e, por vezes, para baixo também, que Deus me aparecesse
como um reconhecível veado, en passant e sem ligar muito
a coisas grandes ou, à gente que passava ou aos pomares ou aos barcos que apitavam urgências.
mas deus envelhecera, perdera cabelo e compostura e dentes e delicadeza, coitado, e ali o via
a segurar as vestes em burel e linho muito áspero com ar lúbrico e saloio meio disfarçado.
perguntei onde andam os designers de deus, encolheu os ombros em gesto perdido e muito atrasado...
ía soprando o seu vento de falsete - seria o Santo Espírito? - e continuava descalço e olhava as raparigas e os belos rapazes, a querer comungá-los a todos e eles assustavam-se, porque eram da aldeia, se fossem da cidade apenas perguntariam se tinha dinheiro, mas Deus não sabia tal.
eu tinha a missão idiota de tomar conta de Deus que queria ser um deus-machine e chicklet,
perdido de si e perdido do Pai, a Deus bastava ali um telemóvel para gerir o imenso mercado das carnes
Atravessava uma crise este Deus de muitos anos, ocorreu-me que pudesse morrer até de novo.
desta vez assassinado outra vez, e sem evangelhos ou cruzes ou sentidos maiores para serem contados-.
~pi
2 comentários:
Belo efeito de luz e sombras, a tua foto. Assim julgo poder ler, também, o teu texto...
beijo, Justine, obrigada por leres um texto de um Deus sombrio e momentâneo.
o deus antigo, afinal, precisava muito de sacrifícios... ou assim o pintaram os homens nas suas bíblias.
foi esse que veio até mim, ensurdecedor e passageiro, neste dia.
~
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