Dia
21 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
esta bela fotografia
de Rocha/Desenhamento
quinta-feira, janeiro 31, 2013
AGENDA PARA FEVEREIRO DE 2013
Foto de M
«Experience is the name everyone gives to their mistakes.»
Oscar Wilde
Dia 7 - Ao jeito de cartilha: Proponho-vos que usemos a sílaba “A” para formar as nossas palavras. Poderá ser colocada no início, no meio ou no fim da palavra que escolhermos. E não se esqueçam da fotografia.
Dia
14 - Reticências
com
a frase “O
vazio”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
Dia
21 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia
de Rocha/Desenhamento
Dia
28 - Fotografando
as palavras de outros sobre
o excerto abaixo reproduzido, que considero muitíssimo interessante.
Embora corra o risco de que este texto possa ser sentido por alguns como pesado
ou perturbador, ele é, na minha opinião, uma reflexão
sábia, e por isso mesmo também reconfortante, perante uma realidade
que acompanha a existência humana.
«Conseguem imaginar a velhice? É claro que não. Eu não conseguia. Não era capaz. Não fazia a mínima ideia de como era. Não tinha sequer uma falsa ideia – não tinha imagem nenhuma. E ninguém quer outra coisa qualquer. Ninguém quer enfrentar nada disto antes de não ter outro remédio. Como vai ser? (...)
(…) Compreensivelmente, é inimaginável qualquer fase da vida mais adiantada do que a nossa. Às vezes já vamos a meio da fase seguinte antes de nos darmos conta de que entrámos nela. (…)
Há
que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer
ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos
morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser
arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única
coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é
que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso
imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada.
Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já
fomos.
Mas ser velho também significa que, apesar de, e além de e para lá
do nosso estado de ser, ainda somos.
O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão
atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo
já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do
seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um
facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo
que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre.
Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais
enquanto vivermos.»
O
Animal Moribundo,
Philip Roth, Publicações Dom Quixote, Novembro 2008
O DESAFIO DE HOJE: «FOTOGRAFANDO AS PALAVRAS DE OUTROS»
Foi sobre este excerto que fotografámos as paisagens das nossas existências. Eu gostei muito. E os meus companheiros de viagem?
http://dias-com-arvores.blogspot.pt/
(…)
Viajar
não será o verbo apropriado para descrever este frenesim de nos
deslocarmos entre dois pontos no menor intervalo de tempo possível,
ignorando tudo quanto se encontre no caminho: planar
é
termo mais justo. Há um país uniforme de auto-estradas, feito de
largas pistas de asfalto, estações de serviço, portagens, nós de
acesso, que se sobrepõe, obliterando-o, a um país diferenciado de
terras, paisagens e gentes. Por isso é educativo, seja por
necessidade ou por opção, abandonar o suave tapete da auto-estrada
para rodar durante uns quilómetros por uma EN. (...)
A
Árvore de Natal do Senhor Ministro – Crónicas Arborescentes,
Paulo Ventura Araújo (texto e fotos), Edições Afrontamento, maio
de 2009
http://dias-com-arvores.blogspot.pt/
segunda-feira, janeiro 28, 2013
«O RISO», ASSIM DIZ A LICÍNIA
O DOMINGO DE ONTEM
Na sequência de uma visita que fiz ontem à exposição O Riso, no Museu da Electricidade, acompanhada por duas meninas da minha idade, mais ano menos ano, lembrei-me deste post do meu antigo blog Fotoescrita, com data de Janeiro de 2006.
Associações de ideias. Também porque encontrei lá várias crianças.
Simetrias
(Foto de S.)
Os Meninos, o Colégio e o Museu
São tão graciosas as crianças (uma espécie de pureza intocável), quando passam em fila nas ruas, as mãos pequeninas agarrando o bibe do menino da frente. Para que se não percam no trilho marcado, ou fujam dele, que por vezes os adultos não compreendem a necessidade que elas têm de deslizar para o desconhecido.Pois é, lembrei-me delas quando olhei para o belo edifício em tijolo desta fotografia em que as janelas lado a lado parecem dar-se as mãos. Nele encontrei igualmente semelhanças com um colégio tradicional, género internato inglês (Yes, sir, I’m coming), com a rigidez e os conhecimentos da época desenhados na arquitectura das janelas alinhadas. Fantasia minha, claro, porque sei que este edifício abrigou uma velha central térmica do início do século vinte que, em anos que já lá vão, produzia energia eléctrica para a cidade de Lisboa. Contudo, depois de encerrada devido às novas tecnologias com que o futuro presenteia habitualmente o presente, assim deixando rapidamente de o ser, e transformada em Museu da Electricidade, talvez as minhas associações de ideias não sejam tão descabidas quanto isso. Meninos, colégio, museu. Não os frequentam as crianças, à descoberta do desconhecido e do melhor entendimento das coisas do mundo? Ainda que em fila e segurando o bibe do menino da frente, porque o prazer de explorar também requer a companhia dos seus iguais.
M
quinta-feira, janeiro 24, 2013
AGENDA PARA JANEIRO DE 2013
Dia
31 - Fotografando
as palavras de outros sobre
este excerto de um livro muito interessante.
(…)
Viajar
não será o verbo apropriado para descrever este frenesim de nos
deslocarmos entre dois pontos no menor intervalo de tempo possível,
ignorando tudo quanto se encontre no caminho: planar
é
termo mais justo. Há um país uniforme de auto-estradas, feito de
largas pistas de asfalto, estações de serviço, portagens, nós de
acesso, que se sobrepõe, obliterando-o, a um país diferenciado de
terras, paisagens e gentes. Por isso é educativo, seja por
necessidade ou por opção, abandonar o suave tapete da auto-estrada
para rodar durante uns quilómetros por uma EN. (...)
A
Árvore de Natal do Senhor Ministro – Crónicas Arborescentes,
Paulo Ventura Araújo (texto e fotos), Edições Afrontamento, maio
de 2009
O DESAFIO DESTA SEMANA: «COM AS PALAVRAS DENTRO DO OLHAR»
13. Zé-Viajante
Na pista vazia ainda a memória da última nave ali estacionada. Vinda do Planeta Justiça ali ficou uns tempos até que os seus tripulantes terminassem a sua missão.Que parece não ter resultado. Os habitantes de Terra, não conseguiram (ou não quiseram...) assimilar os ensinamentos de estranhos. Espera-se nova visita o mais breve possível.
No placard da estação (invisivel agora) anunciam-se chegadas de outras naves. Vindas dos Planetas Amor e Fraternidade. Espera-se, desta vez, um êxito rotundo nas sua missões.
Zé-Viajante
Zé-Viajante
12. Zambujal
Quais as palavras que saltam de dentro do olhar quando ele se cruza com esta foto e se retém a fixá-la?
É curioso que começo por me julgar na semana anterior, no fotodicionário risco.
Os riscos estão marcados no chão e outros riscos, ou riscos com outro significado, ameaçam dos ares, com as núvens negras e parecendo carregadas de borrasca.
O olhar, ao olhar, reflecte o que nos assusta, o que os ouvidos ouvem, este tamborilar de chuva e granizo nas claraboias, o trovejar intermitente e violento, restos – se apenas restos forem… – de um sábado de temporal aqui pelo Zambujal, de vendaval por todo o Portugal. Rimas fáceis ausentes de ritmo poético? Decerto, mas a meteorologia (e a foto) não dá para deixar escolher as palavras, que são de incómodo, preocupação, susto.
Zambujal
É curioso que começo por me julgar na semana anterior, no fotodicionário risco.
Os riscos estão marcados no chão e outros riscos, ou riscos com outro significado, ameaçam dos ares, com as núvens negras e parecendo carregadas de borrasca.
O olhar, ao olhar, reflecte o que nos assusta, o que os ouvidos ouvem, este tamborilar de chuva e granizo nas claraboias, o trovejar intermitente e violento, restos – se apenas restos forem… – de um sábado de temporal aqui pelo Zambujal, de vendaval por todo o Portugal. Rimas fáceis ausentes de ritmo poético? Decerto, mas a meteorologia (e a foto) não dá para deixar escolher as palavras, que são de incómodo, preocupação, susto.
Zambujal
11. Teresa Silva
Que bonita fotografia. Chega-se ao local, é só estacionar o carro e ficar
a contemplar o cair da noite e o acender das luzes, ao longe.
Teresa Silva
Teresa Silva
10. Rocha/Desenhamento
Sei que esta fotografia não corresponde a um registo analógico ou digital realizado algures, num longínquo planeta talvez semelhante à Terra, poentes lilases e nuvens espessas, eventualmente habitado por uma gente não muito indistinta da gente que somos, seres dotados de inteligência, capacidade de transformar o território e os eco sistemas do seu espaço natural, adaptando tais mudanças aos intuitos principais da vida, dessa outra vida não inteiramente estranha, firmando a arrumação racional dos meios com os quais poderá transitar, pela terra e pelo ar, de horizonte para horizonte, demarcando geometricamente lugares de utilidade, lugares por vezes povoados de máquinas indizíveis, outras vezes, noutras horas, como que abandonados, desertos, escurecidos até ao limite das distâncias, ostentando ainda, para depois, as marcas lineares do uso lógico de certos espaços, como aqueles que se distendem, aqui, na periferia dos aeroportos.
Sei que esta fotografia não foi operada nesse outro mundo.
Isso sei.
Mas parece. Isso também sei: que parece vinda de muito longe, pelo olhar e pela mão de outra gente.
Claro que não vou adivinhar nada, nem de lá nem de cá.
Isso sei.
Mas parece. Isso também sei: que parece vinda de muito longe, pelo olhar e pela mão de outra gente.
Claro que não vou adivinhar nada, nem de lá nem de cá.
Rocha de Sousa
9.~pi
Roses, dia sete de novembro de dois mil e doze.
Diário:
"Come a última bolacha do pacote, pressente uma febre oval a subir no hemisfério direito, logo acima do olho - reconhece a cor violeta da noite, por duas vezes essa noite é noite.
Abotoa-se ao mar para olhar de frente o metálico vendaval emboscado na colina do parque, aquele que no inverno se prende à rosa pela cintura, arrancando-lhe o carnaval do nome."
~pi
Diário:
"Come a última bolacha do pacote, pressente uma febre oval a subir no hemisfério direito, logo acima do olho - reconhece a cor violeta da noite, por duas vezes essa noite é noite.
Abotoa-se ao mar para olhar de frente o metálico vendaval emboscado na colina do parque, aquele que no inverno se prende à rosa pela cintura, arrancando-lhe o carnaval do nome."
~pi
7. M.
Quando o céu se adensa negro, marco bem o meu lugar no chão para que o meu corpo, reconhecendo-o, não perca o equilíbrio e o olhar se mantenha firme no horizonte.
M
M
6. Luisa
Perderam-se no horizonte os que para lá foram levados. Não vale a pena esperar a sua volta.
Luisa
Luisa
5. Licínia
QUE
FAREI QUANDO TUDO ARDE – o título do livro de António Lobo
Antunes (que não li). Foi o que me ocorreu de imediato ao olhar a
foto da ~Pi. Porquê? Sei lá eu das associações que se fazem
dentro da nossa cabeça, num sítio qualquer da rede de neurónios
que a percorrem. Podia ter dito da aproximação de um OVNI, ou de um
campo relvado que amanhece, ou de um sonho atribulado próximo do
despertar. Mas não. Continuo a pensar QUE FAREI QUANDO TUDO ARDE e a
curiosidade pelo livro ganha força.
Licínia
4. Justine
Como decidir entre a terra dividida em parcelas exíguas, o mar enganoso em serenidades aparentes e o céu ameaçador, belo e inatingível? Fico-me pela ilusão de, pelo menos com o olhar, poder abarcar os três elementos.
Justine
Justine
3. Jawaa
Uma imagem que pode simbolizar o presente: em primeiro plano, linhas rectas, truncadas, sobre a cor da esperança embora.
Ao fundo o mar, depois das nuvens, o céu aberto, a luz de uma madrugada qualquer.
Jawaa
Ao fundo o mar, depois das nuvens, o céu aberto, a luz de uma madrugada qualquer.
Jawaa
2. Bettips
Sugestão de uma pista,
um largar de avião ou asa,
para ocidente.
A miragem da viagem.
Apenas vemos lugares vazios: o espírito mobila-os com as suas peças avulso do pensamento, desfasadas da realidade do olhar.
Este lugar do sonho é-nos "reservado". Grátis. Primordial.
Bettips
um largar de avião ou asa,
para ocidente.
A miragem da viagem.
Apenas vemos lugares vazios: o espírito mobila-os com as suas peças avulso do pensamento, desfasadas da realidade do olhar.
Este lugar do sonho é-nos "reservado". Grátis. Primordial.
Bettips
1. Agrades
Incognita
Pode
ser uma chegada, cheia de esperança e contentamento...
Pode
ser uma partida, carregada de desencanto e desespero.
Agrades
quinta-feira, janeiro 17, 2013
quinta-feira, janeiro 10, 2013
AGENDA PARA JANEIRO DE 2013
Dia
17
-
Fotodicionário
com
a palavra “
Risco”
escolhida
pelo Zé-Viajante
«RETICÊNCIAS», O DESAFIO DE HOJE
Vocês são espantosos!
Quando, há semanas atrás (ainda em 2012, vejam lá! Ele estava ali há pouco...), preparava o desafio Reticências e me surgiu na cabeça, sem eu saber porquê, a frase "Os muros" para iniciar o texto, não tinha a mínima ideia que fotografia usaria nem sequer o que escreveria. Gostei daquela frase, achei-a bonita, apenas isso. E então sou presenteada com esta diversidade espantosa de olhares a partir de duas palavras tão simples como estas, e assim unidas pelo mero acaso de um pensamento.
Vocês são espantosamente criativos!
M
Quando, há semanas atrás (ainda em 2012, vejam lá! Ele estava ali há pouco...), preparava o desafio Reticências e me surgiu na cabeça, sem eu saber porquê, a frase "Os muros" para iniciar o texto, não tinha a mínima ideia que fotografia usaria nem sequer o que escreveria. Gostei daquela frase, achei-a bonita, apenas isso. E então sou presenteada com esta diversidade espantosa de olhares a partir de duas palavras tão simples como estas, e assim unidas pelo mero acaso de um pensamento.
Vocês são espantosamente criativos!
M
14. Zé-Viajante
Os
muros que nos dividem. Os muros que nos protegem. Os muros que
tentamos, a muito custo, ultrapassar. Os muros que servem de palete,
para pinturas coerentes ou nem tanto. Os muros onde anunciamos o
nosso Amor. Ou desgosto, descontentamento e também ira. Os muros
onde se anunciam os eventos, os lugares. Os muros que nos rodeiam,
podem ser bonitos. Ou não!
Zé-Viajante
13. Zambujal
Os
muros
são obra dos seres humanos. É preciso lembrá-lo, porque os seres
humanos têm propensão para esquecer, e a História é escrita
por/para aparentes vencedores que precisam, hoje, que assim – de
uma certa maneira – tenha sido ontem.
E
muitos são os muros! Embora à memória logo nos venha um que foi, e
não se pergunta porquê mas se festeja ter deixado de ser. Porque
assim se escreve a História. Que parece esquecer muros que ficaram.
E são… muros que nos envergonham, como seres humanos que, pedra
sobre pedra, os construímos e com eles convivemos. Lembro só três
que não cairam mas que estão: o muro entre os Estados Unidos e o
México, o muro da Cisjordânia,
construído
por Israel em torno e por dentro dos Territórios Palestinos
Ocupados, o muro em Nicósia, que separa Nicósia de Nicósia,
cipriotas de cipriotas, um verdadeiro arrepio para turistas de
máquina fotográfica em punho para registo de viagens.
Haverá
outros… Como os que protegem as videiras dos ventos e das lavas
vulcânicas, e mais os que demarcam e escondem quintais e outros
locais.
Miguel
Torga
disse que o
universal é o local menos os muros
e, já agora…, mais um muro outro, do imaginário, o que, nas suas
aventuras
tão maravilhosamente contadas por José
Gomes Ferreira,
o João
Sem Medo
saltou para sair de Chora-Que-Logo-Bebes e chegar à Floresta Branca,
essa espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.
Abaixo
os muros. Não todos, mas quase todos.
Zambujal
12. Teresa Silva
11. Rocha/Desenhamento
Os
muros da casa em ruínas destacavam-se no alto de um pequeno cerro e
faziam parte de uma sucinta e abandonada aldeia, longamente destruída
pelo tempo e pelos vândalos de passagem. Era um espectáculo triste
e trágico, uma habitação campestre cujos muros ainda se aguentavam
erguidos, em parte e a prumo, embora de limites mordidos e de
superfícies raspadas pela chuva e pelo vento. Os muros sustentavam
ainda um bocado de telhado, abertos à frente, até um alpendre de
telha e suporte de colunas rústicas, fortes sombras sob essa
persistência, bocados de luz atravessando a soma de vigas tombadas e
apoios feitos de troncos, o que sugeria uma sobrevivência arrastada
dos camponeses atrás dos muros propriamente ditos, da casa em si, à
luz das candeias durante a noite, cá fora durante o dia, sustentando
o que ainda podia ter sustentação. Um dia, entre rupturas nas
paredes internas e nos muros exteriores, toda a família teve de
abandonar essa casa que hoje não passa emblematicamente de uma
paisagem de muros ainda erguidos entre o resto da sucessiva
derrocada.
Uma
imagem da vida.
Uma
imagem da morte.
Rocha
de Sousa
10. ~pi
9. Mena M.
6. Licínia
Os muros estão ali para contarem que houve um tempo antes da casa. E antes dele nasceram as pedras. A memória antiga das pedras fala de conchas, de peixes, de sal. Ao princípio era o mar, depois a terra e os seus bichos. E houve guerras quando chegaram os homens que fizeram os muros. E fizeram a casa. E plantaram a árvore. E colhem os frutos. E vivem e dormem, por detrás da cal, na casa de segredos, na concha de terra que veio depois do mar, depois do nada que foi antes do mar, antes, muito antes.
Licínia
5. Justine
4. Jawaa
Os muros não existem.
Assim de cimento ou rede, muralhas de pedra ou adobe, não possuem o significado que os homens lhes atribuem, não impedem os caminhos com a severidade que ostentam: deles brotam ou sobre eles se derramam flores que lhes adoçam o parecer; o tempo os corrói, os veste de heras, de silvas e musgo.
Os outros, sim. Os muros por dentro são invioláveis, severos, chegam a ser perversos.
Jawaa
3. Bettips
Os muros... onde moram as razões?
Dos muros que adivinhamos, vemos, erguemos, saltamos.
Os muros que tocámos com as mãos nuas, os que nos sangraram, os que nos abrigaram, os que nos deram gosto de existir. Barreiras que ainda temos.
Serão tantas as razões dos muros como as várias razões de várias pessoas.
Bettips
2. Benó
“Os muros feitos com as peças da Lego embelezavam a vivenda e um parque ajardinado que a Joana tinha construído durante toda a manhã. Estava muito vaidosa da sua obra e ansiosa pelo fim do dia para mostrar ao pai o seu trabalho. Fora feito com muito cuidado e todas as peças se encaixavam perfeitamente. Não se esquecera do Bobi, e pusera o Manelinho a preparar um grelhado no “barbecue”, junto duma árvore. Tudo muito arrumadinho como era hábito da Joana.
Chegou a hora do lanche e o Pedro regressou da escola numa correria desenfreada e com uma pressa enorme de mostrar à mana aquele cromo difícil de arranjar e que acabara de ganhar num jogo de berlindes. A alegria de poder terminar a colecção dos jogadores de futebol via-se-lhe no rosto rosado por tanta excitação
-Mana!!Mana!!! Grita, abrindo a porta do quarto e segurando na mão o troféu precioso. Não repara nas peças Lego e distraidamente atira a mochila para o chão, no sítio exato onde se encontra todo o trabalho da construção que se desmoronou e que era o orgulho da sua irmã.”
Não sei como acabar a história, pois antevejo dois finais.
Primeiro: A Joana chora, grita, chama parvo ao mano que muito triste lhe pede desculpa e os dois juntos acabam por repor as peças no lugar a tempo do pai chegar e ver tudo construído.
Segundo: A Joana chora, grita, chama parvo ao mano e num ataque de fúria feminina pega no avião feito também com peças Lego pelo seu irmão e atira-o ao chão desfazendo tudo.
A partir daqui é obrigatória a intervenção maternal para que não se forme um muro de desentendimento entre os manos.
Benó
quinta-feira, janeiro 03, 2013
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