Os
muros
são obra dos seres humanos. É preciso lembrá-lo, porque os seres
humanos têm propensão para esquecer, e a História é escrita
por/para aparentes vencedores que precisam, hoje, que assim – de
uma certa maneira – tenha sido ontem.
E
muitos são os muros! Embora à memória logo nos venha um que foi, e
não se pergunta porquê mas se festeja ter deixado de ser. Porque
assim se escreve a História. Que parece esquecer muros que ficaram.
E são… muros que nos envergonham, como seres humanos que, pedra
sobre pedra, os construímos e com eles convivemos. Lembro só três
que não cairam mas que estão: o muro entre os Estados Unidos e o
México, o muro da Cisjordânia,
construído
por Israel em torno e por dentro dos Territórios Palestinos
Ocupados, o muro em Nicósia, que separa Nicósia de Nicósia,
cipriotas de cipriotas, um verdadeiro arrepio para turistas de
máquina fotográfica em punho para registo de viagens.
Haverá
outros… Como os que protegem as videiras dos ventos e das lavas
vulcânicas, e mais os que demarcam e escondem quintais e outros
locais.
Miguel
Torga
disse que o
universal é o local menos os muros
e, já agora…, mais um muro outro, do imaginário, o que, nas suas
aventuras
tão maravilhosamente contadas por José
Gomes Ferreira,
o João
Sem Medo
saltou para sair de Chora-Que-Logo-Bebes e chegar à Floresta Branca,
essa espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.
Abaixo
os muros. Não todos, mas quase todos.
Zambujal
10 comentários:
Quer a fotografia quer um texto constituem, a meu ver, uma bela
reflexão sobre a realidade humana.
Rocha de Sousa
A universalidade dos muros nas mãos do ser humano. Um texto muito interessante e uma fotografia terrível a mostrar como são diferentes as posturas e os desejos do ser humano. Impressionante aquele friso de plantas encostado à parede de sacos. Quase como um abraço silencioso. Ou o abraço persistente perante o que parece irremediável.
Um muro diferente dos que habitualmente vejo... Um muro arrepiante!
Sempre a beleza, a simplicidade, contra o negrume da opressão.
Tomára o tempo em que todos os muros sejam substituídos por flores.
Belíssimo texto, Zambujal! A foto, vivida e sofrida a dois...
Muros... de flores.
Serem um abraço.
Muros à altura dos cotovelos para falar com os vizinhos.
De suporte de barragens.
Para o que isto dava... Poucas palavras háverá prolixas. Até porque cada um tem os seus muros internos e privados.
Foi uma "boa malha"!
Fez-me lembrar o Checkpoint Charlie aqui em Berlim.
Há quem mate por causa de um muro. Este é bonito, deste lado, tem flores e um fundo verde, a cor da esperança.
Porque o associei a Chipre, antes de ler o texto? Porque os muros das potências que os erguem são "alegremente" mostrados, na sua incrível fealdade e desumanidade. Dividem ideais, formas de progresso do ser humano. Muros-mentira-ódio.
Este é um muro entre vizinhos: e o humano deste lado tentará, na sua humildade de terra-e-plantas, torná-lo absurdo. Para quem do outro lado se debruçar numa janela.
Muito bom, o que nos mostras e o que nos dizes!
Enviar um comentário