Não é Gago
Coutinho nem oficial da Marinha, mas foi também um homem importante da Aviação
Militar Portuguesa.
António de Sousa Maya, aprendeu a voar em França onde também lutou na 1ª Guerra Mundial, foi o 1º Comandante da G.E.A.R na Amadora, antifascista e meu avô paterno.
A foto é de um gelliprint que fiz de uma fotografia oficial com o seu colega de aventuras Lello Portela.
Mena
9 comentários:
As histórias não contadas. Ainda bem que fizeste o gelliprint
E lá vêm a família Maya através da História, voando desde e até ao infinito.
Uma ideia que muito tenho apreciado, os gelliprints que tens feito e tenho visto!
Histórias que o público em geral devia conhecer melhor
Luisa
Encontrei este artigo na página da Aeronautica Milital do Exército no Facebook, original da Revista do Ar.
António Sousa Maya
Há duas boinas características em Lisboa, a de Gago Coutinho e a de António Maya.
Ambas são inconfundíveis e cada uma tem forma própria. A do piloto António Maya ostenta a águia da aviação Polaca, pois é aviador honorário daquela nação.
Ao vê-los os lisboetas sabem muito bem quem eles são e têm sempre à sua passagem em comentário amigo e de admiração. Tornaram-se populares no admirável sentido do termo.
António Maya é hoje o piloto mais antigo da Aeronáutica Militar e quem o vê passar com aquele ar despreocupado que é timbre do homem do Ar não sabe em pormenor o que tem sido a sua intensa atividade de serviço aéreo desde aqueles tempos distantes em que em Inglaterra, com Óscar Monteiro Torres e Lello Portela, recebia instrução no Royal Flying Corps para obtenção do brevet de piloto aviador. Passava-se isto em 1916.
Logo no primeiro dia de instrução, numa daquelas manhãs cinzentas e Inglaterra, os pilotos portugueses receberam esta notícia: morreu hoje o melhor aluno da escola….
Belo começo, não haja dúvida.
Mas, o que podia causar apreensões a António Maya e aos seus companheiros?
Cavaleiro, instrutor de equitação do Colégio Militar, António Maya não se impressionou. A sua têmpera tantas vezes posta à prova era de “antes quebrar do que torcer”.
Cada um assinou um cheque em branco…..
E a instrução seguiu o seu curso. Primeiro na Escola Civil de Hendon, depois na Militar de Northolt.
Então para se conquistar o brevet exigiam-se provas em cinco aviões distintos, eram eles Caudron G.3, Farman, Avro, Curtiss e Be-C2.
Nesse dia antes de serem largados – primeiro António Maya – os três pilotos portugueses tomaram esta resolução: cada um assinou um cheque em branco para que pudesses levantar o dinheiro que tinham depositado….
Porém foi uma resolução em branco…
E com o seu diploma não mãos, António Maya, que valorosamente se distinguiu revelando altas qualidades de pilotagem, seguiu para França integrado numa esquadrilha inglesa em Dezembro de 1916.
Estávamos em plena guerra e os pilotos faziam muita falta. Rápida passagem pelas escolas de Aborde, Pau e Misamer para treino de alta acrobacia e voo noturno e ei-los depois em missões de guerra sulcando os céus de França sobre o território ocupado pelos alemães.
Vem daí a honrosa citação do Comando da 1ª Divisão Aérea do Exército Francês ao piloto aviador António Maya pela “bravura e entusiasmo revelados nas numerosas missões de patrulhamento sobre as linhas inimigas”.
Cruz de Guerra Francesa com Estrela de Prata
E daí também legitimo título de orgulho para um militar com é António Maya. O direito de usar a “Cruz de Guerra Francesa” com estrela de prata!
Eis uma passagem da sua valiosa ação como piloto de guerra que recordamos cheios de satisfação, como portugueses e amigos da aviação.
Depois de terminada a guerra o valoroso piloto regressou a Portugal.
Trabalhador infatigável foi o organizador e primeiro comandante do extinto Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República (GEAR), numa hora difícil para a segurança das instituições, e ali pôs à prova todo o seu carinho pela aviação e todo o seu poder de iniciativa.
Nessa altura o comandante António Maya era um símbolo, o das boas intenções, o da camaradagem, brio e valentia, qualidades admiráveis que soube manter sempre como timbre do seu carácter.
O seu nome encheu colunas dos jornais da época.
Nesse tempo, estava ainda na Amadora, deu o maior “estoiro” da sua vida de aviador.
Descolou num Breguet com o saudoso Rodrigues Alves. Aos comandos António Maya e o companheiro como metralhador. Tratava-se de um exercício de tiro sobre um alvo no mar, perto dos areais da Caparica. Levavam como alvo uma enorme manga com bocados de cortiça que, a dado momento, seria lançada para a água.
Pois foi nesse momento….
A manga envolveu-se no avião e prendeu os comandos. O aparelho incidiu sobre a outra banda a pleno motor, o pé esquerdo a fundo…E os comandos a nada cediam…E a terra crescia, avolumava-se espantosamente.
O avião descreveu uma volta completa de “costas” e foi estatelar-se com as rodas para o ar a uns 15 metros de distância do ponto de embate!
Momentos de confrangedor silêncio….
Até que sumidamente a voz de Rodrigues Alves, a medo, não fosse responder-lhe o silêncio eloquente de uma grande tragédia:
-Ó comandante….
Porém o comandante respondeu-lhe. Que alívio!
Acorreu gente e os aviadores, de cabeça para baixo, lá foram retirados do avião e levados para casa dum pescador, onde almoçaram.
O pescador tinha uma filha, rapariga bonita que assistira ao desastre e tinha no olhar espantado toda a horrível visão da tragédia eminente.
Falaram com ela os aviadores, mas nada….Ela não respondia, com aquele ar meio aparvalhado.
E só quando terminou o almoço e os aviadores trataram de vir para Lisboa é que a rapariga, timidamente, quase que implorando, lhes disse apenas isto:
- Não tornem a andar naquilo, não?
Aquilo era o avião, todo despedaçado e para o qual ela apontava, transida de pavor.
Recordamos uma outra passagem pouco conhecida da atividade aeronáutica de António Maya.
Com Lello Portela meteu ombros à organização em 1919 d raide Paris – Lisboa.
Adquiriram-se em França dois Breguet com maior raio de ação dos que os de série e durante algum tempo os dois aviadores com os mecânicos Gouveia e Sousa executaram vários voos de treino tendo Paris como ponto de partida. Foram a Bordéus, Bruxelas e Haia. Aproveitando a realização dum certame aeronáutico em Haia tomaram parte num circuito que foi ganho por Fonk.
Na prova de treino Paris – Bruxelas António Maya estabeleceu o tempo recorde para a época de 1 hora e 38 minutos. Naquela época a mesma distância era percorrida em 2 horas.
O raide direto Paris – Lisboa foi inutilizado em consequência de duas avarias, uma em Casaux e outra próximo de Ávila.
E hoje é o Brigadeiro Piloto Aviador António Maya
Da Amadora o comandante António Maya transitou para Tancos. Durante muitos anos comandou o Grupo de Proteção e Combate. Depois foi colocado na Direção da Aeronáutica Militar como Inspetor e desempenhou interinamente as funções de Director.
Chamado para a frequência do Instituto de Altos Estudos Militares, concluiu com elevada classificação o curso de oficial general.
Hoje é o Brigadeiro Piloto Aviador António Maya.
In Revista do Ar por António Rosa (1946)….
Tens certamente muito orgulho neste teu avô, Mena
Interessante a associação que fizeste entre Gago Coutinho e Sacadura Cabral com o teu avô.
Que bonito relato de um avô notável. Gostei muito de saber esse pedaço de história da nossa aviação.
Abracinho, Mena.
Enviar um comentário