quarta-feira, maio 15, 2024

8. Mónica

Vila/Aldeia – Nas minhas pesquisas nas certidões de batismo/casamento/óbito na aldeia de Ervidel encontrei um casal de escravos, o Domingos Luís Abelha e a Maria Mestra, de um tal Inácio Gonçalves Romano que me chamou à atenção, casaram em 1738, batizaram a primeira filha quatro meses depois e mais cinco filhos nos doze anos seguintes, Luísa, Miguel, José, Romão, Romana e Rosa. Destes morreram o Romão com três anos e a Romana com oito anos. Na certidão de óbito do Romão está escrito que foram dados os sacramentos a um “escravinho”. Na certidão de óbito da Romana está escrito que era escrava de André Gonçalves Romano o que me leva a presumir que tenha sido vendida a um parente do proprietário dos pais. Nesta época a escravatura era total, ainda não tinha saído a lei de 1763 do “ventre livre” do Marquês de Pombal em que os filhos das escravas nasciam livres. Na certidão de óbito do Domingos Luís Abelha em 1788, cinquenta anos depois do casamento, é viúvo, nada é dito sobre a sua condição de escravo, o que me faz supor que, com tanta longevidade à época e o apelido Abelha, não teria sido um escravo qualquer, talvez um apicultor poupado a trabalhos duros e maus tratos, ou já seria livre se isso fosse possível. Estou curiosa por saber o que aconteceu à restante descendência do casal de escravos, vou continuar a pesquisar. Por tantos motivos esta aldeia tornou-se parte importante da minha vida.

Mónica

7 comentários:

M. disse...

Notável o teu empenho nestas tuas investigações. E comovente, sem dúvida comovente. Aqueles sobre quem desejas conhecer a vida de há tantos séculos merecem ser trazidos ao teu/nosso presente, ainda que não seja possível descobri-la toda. E que terrível deve ter sido esse tempo de escravidão para tanta gente...

Licínia Quitério disse...

Excelente pesquisa, com resultados muito interessantes. A escravatura existiu e também aqui tão perto.

Anónimo disse...

Interessante e dramática pesquiza
Luisa

Anónimo disse...

Nunca tinha ouvido falar dessa aldeia. Um estudo histórico muito detalhado. Consegues fazer a ligação do passado ao presente?

Teresa

Mónica disse...

Ervidel é uma freguesia de Aljustrel, não encontro nada sobre Ervidel, nada, aceito sugestões de leitura. Para fazer a ligação do passado ao presente desta família teria que seguir a vida dos filhos, até agora não encontrei nada (não é esse o foco da minha pesquisa, apenas anoto cada vez que passo os olhos em certidões que os referem), basta que os filhos tenham sido vendidos, irem para outro lugar para nunca mais eu os encontrar

bettips disse...

Em Ervidel estivemos duas noites de passagem, há uns anos, com a nossa amiga das pequenas sortidas pelo Alentejo adiante. Era Maio.
O que descobres é fascinante mas assustador. Tanta gente anónima e sofrida se vislumbra no seguimento do que vais escavando. Afinal que ligação tens a Ervidel? Curiosidade apenas, se preferires manda e-mail.

Mónica disse...

Tenho antepassados em Ervidel. Já vi bonitas fotografias desse passeio.