Num acontecimento desagradável – A propósito de uma memorável festa de família lembrei-me de um acontecimento desagradável em família. Há tempos, que foram curtos, morei na Av. da Igreja num belo apartamento que dividia com uma amiga, num tempo em que arrendar casa em Lisboa era a sorte de encontrar porque o preço a dividir pelas duas era acessível. A certa altura decidi (com a devida concordância da minha homemate) fazer uma vez por semana um “jantar de primos”, em que cada semana eu e cada um dos meus primos, à vez, cozinhava lá em casa, trazia os ingredientes e ia para a cozinha entregue às panelas e ao fogão. Como a minha homemate era viciada no trabalho (no prédio ao lado) chegava tarde e apanhava o fim do jantar, uma forma airosa de não se comprometer em ser a vez dela de cozinhar, por acaso uma excelente cozinheira gourmet e muito crítica. Eram muito divertidos os jantares, sabia-nos bem o pretexto do encontro semanal. Num desses jantares, talvez dos últimos, a minha homemate (insisto no termo em inglês, inventado pela filha dela) chega como sempre tarde, a tempo da sobremesa feita por um dos meus primos e gaba a canela, muito saborosa, ao que o meu primo diz, é boa é, tirei-a do armário ao lado do fogão. Ela levanta os olhos do prato, olha para ele, por uns segundos pensei que não era canela, seria droga, ouro em pó, pozinhos de perlimpimpim, a poção mágica do druida Panoramix?, e ela diz essa canela é minha, é especial, é biológica, importada, foi muito cara, por isso é que é boa e eu vi logo que não era dessas porcarias que parecem canela, não é uma canela qualquer. O meu primo desatou a rir e disse-lhe, desculpa esqueci-me de trazer canela, ainda bem que tinhas cá canela e da boa. Ela não achou graça nenhuma, disse-lhe que se quisesse usar canela que usasse a da prima que estava noutro armário, aquela canela era do seu uso exclusivo para as receitas especiais dela. A partir daí o ambiente do jantar gelou, foi inútil o pedido de desculpa e a promessa de repor a quantidade de canela gasta, estava o mal feito. Para nós, os primos, a história da canela é repetida e motivo de risota sempre que se fala nos saudosos “jantares de primos”. Não faço ideia que canela especial seria.
Mónica
8 comentários:
Bela história
Luisa
Uns pózinhos de canela em troca de tantas sobremesas, é preciso ser picuinhas.
Imagino o ar irritado da tua homemate ofendida, e o divertimento (contido, presumo...) dos restantes comensais! Situação para não esquecer!
De chorar a rir... Estou a ver a cena toda... e mais não digo...
Um lugar amável, onde viveste a meias. Se calha era canela da Índia, do tempo do Vasco da Gama... Senhora de triques e truques, a tua homemate!
Lá estou eu acima, embuçada no anonimato a que este coiso me lança inopinadamente.
Realmente a tua homemate foi desagradável. Mas a história foi muito bem contada por ti e divertida para nós que te lemos e imaginamos a cena.
Uma história muito engraçada. Como pode um pouco de canela dar cabo do ambiente.
Teresa
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