Naquilo de que nunca nos separaremos – boa questão que me pus quando há dias acordei com a cama a abanar e percebi que era um sismo. Em poucos segundos pensei se isto abana outra vez devia ir para a rua, vestir qualquer coisa mais apropriada do que o pijama, vestir o máximo de coisas, sapatos, botas, levar um casaco, escova de dentes, uma muda de roupa interior. Daqui num pulo vou à sala e o que levo, uma faca, um livro, uma fotografia, a minha carteira, o meu passaporte, em que saco meto as coisas, a minha mantinha, champô, sabonete, uma toalha, o meu telemóvel, um frasco de atum que depois de lavado serve de recipiente, um litro de leite sem lactose. E o meu computador, o meu disco externo com todas as minhas fotografias, não posso deixar para trás as minhas memórias. O sono foi mais forte e adormeci rapidamente. Decidi que aquilo de que nunca me separarei é do meu cartão multibanco. Será que devia dormir com o cartão multibanco na cabeceira? Depois ligo a televisão e vejo as imagens de guerra, dos prédios cortados ao meio, das pessoas em padiolas levadas para hospitais destruídos, das crianças a deambular pelos escombros, com latas à cabeça à procura de água, a comida enlatada que cai do céu. Acho que o melhor é nunca me separar do meu corpo inteiro.
Mónica
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