Não me chamem pelo nome Que me deram ao nascer; Sou como a folha caída Que não chegou a viver.
(...)
Sou como a folha caída Pisada por quem passeia Alheio à luz e à beleza; E de todas as venturas, Só me encontro nos silêncios Que tem a minha tristeza.
(...)
Sou como flor esquecida Nos canteiros da ilusão De um jardineiro traidor, Sou como fonte discreta Entre folhagens cantando Tristes cantigas de amor; A fim de tanta vileza Já não me posso iludir Com as promessas da vida! Tudo em mim sabe a derrota, E até da morte duvido — Sou como folha caída.
Sou como tudo que passa No giro do pensamento De uma criança a brincar; E os meus mais débeis desejos Morrem aos ais na lembrança De quem se esqueceu de amar; Nada no mundo me prende; Nem a saudade de um beijo Num momento de prazer!, — Pobre corpo sem destino, Renúncia firme de artista Que não chegou a viver.
9 comentários:
Uma ideia de folha só, com as suas cores outonais. Gosto deste "nada" vazio, sem intenção!
Concordo contigo Bettips.
Leo
A mim dar-me-ia mais ideia de solidão, se tivesse sido fotografada no seu elemento natural. Mas percebo a ideia.
Uma folha fora da árvore, já seca. Que maior solidão?
Solidão da.." Não resignação"
um abraço
intruso
Gosto muito.
Só
separada da arvore
seca
a solidão mais grave...
só aguardando a morte chegar...
Belo no entanto...
Muito belo!
Isabel
Não me chamem pelo nome
Que me deram ao nascer;
Sou como a folha caída
Que não chegou a viver.
(...)
Sou como a folha caída
Pisada por quem passeia
Alheio à luz e à beleza;
E de todas as venturas,
Só me encontro nos silêncios
Que tem a minha tristeza.
(...)
Sou como flor esquecida
Nos canteiros da ilusão
De um jardineiro traidor,
Sou como fonte discreta
Entre folhagens cantando
Tristes cantigas de amor;
A fim de tanta vileza
Já não me posso iludir
Com as promessas da vida!
Tudo em mim sabe a derrota,
E até da morte duvido
— Sou como folha caída.
Sou como tudo que passa
No giro do pensamento
De uma criança a brincar;
E os meus mais débeis desejos
Morrem aos ais na lembrança
De quem se esqueceu de amar;
Nada no mundo me prende;
Nem a saudade de um beijo
Num momento de prazer!,
— Pobre corpo sem destino,
Renúncia firme de artista
Que não chegou a viver.
(As Canções de António Botto, 1999).
Folha caída. Imagem sempre forte do fenecer, solitário ou não.
É uma solidão sempre sofrida...
Abraço!
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