Foto de M.
«Há dias, um de nós − foi Camila? fui eu? − perguntava: «Se tivéssemos vinte anos, amaríamos assim este lugar?» Não soubemos responder. Mas concordámos quanto à sabedoria da maturidade. Mesmo quando diminui a premência de alguns impulsos ou a intensidade de alguns comportamentos, compensa-nos com uma libertadora relativização das ambições e, sobretudo, com uma bitola muito mais generosa e muito mais subtil na reapreciação dos afectos, das pessoas e das coisas, permitindo-nos conhecê-los melhor, valorizando-os pelo que realmente são e não tínhamos sabido ver, e pelo que nos levam a ser e a ultrapassar até horizontes imprevistos.
Há um tempo para cada coisa e um ritmo para cada tempo. Camila e eu intimidámo-nos, um dia distante, perante possíveis riscos e desilusões, perante, sobretudo, as ilimitadas exigências do empenhamento e do compromisso. Eu parei, no limiar e na angústia dos gestos necessários. Ela deu o primeiro passo resoluto nesse caminho sem regresso. Encontrámos a plenitude e o esplendor. Hoje, aqui, no silêncio imperturbado e nas horas suspensas da ilha, reconhecemo-nos duplamente privilegiados: viemos a Iona no tempo da esperança, voltámos a Iona no tempo das certezas.»
Regresso a Iona,
7 comentários:
Gostei muito deste texto mas, principalmente, da fotografia.
Sábia reflexão sobre o tempo maduro. O tempo de procurar Iona.
Boas leituras.
Beijinho.
abraço amiga :)
bom domingo para ti
Sempre pensei Iona como um sítio para sentar ao sol, uma espécie de "pier" em Brighton, duas cadeiras lado a lado e ninguém a ver nem a pensar "quem são aqueles? que estarão a dizer? que ridículos, dois velhos, duas mulheres, um homem e uma mulher, dois homens de mãos dadas?"... sério que é assim que imagino Iona, sem nada à frente e muitos silêncios de compromisso de vidas partilhadas. Beijinho M.
Gosto muito da escrita de Helena Marques.
Manuela
Há outras janelas e novos Azulejos.
Abraços
belo texto. pleno de sabedoria...
Enviar um comentário