A Conspiração Solar do Padre Himalaya
"Em 1904 uma multidão apinhara-se à entrada da Exposição mundial de St.Louis, Missouri, Estados Unidos da América. No palácio das Exposições de Máquinas havia uma agitação febril. Mas as pessoas apressavam-se sobretudo para a colina do parque de exposições. Um invento despertara aí ainda mais a curiosidade dos visitantes.
O "Pireliófero", do padre Manuel António Gomes Himalaya, era uma enorme estrutura de aço, com milhares de espelhos em forma de parabólica. Tratava-se da descoberta da utilização da energia solar. O padre, um magro e alto sábio português, construíra o potente engenho, com 80 m2 de superfície, e obtinha assim 3500 graus de temperatura no forno fixo ao cimo da estrutura metálica. Com o enorme espelho parabólico apontado para o sol, aproximava o forno refractário do ponto focal... e repentinamente tudo se derretia - o granito e o basalto quase se liquefaziam instantaneamente. Portugal entrava assim, há quase 100 anos, na história das energias renováveis.
O padre Himalaya veio ainda a ser o autor de variadas patentes: um motor directo e um turbo-motor, uma farinha alimentar baseada em pequenos crsutáceos misturados em farelo, um sistema de reciclagem de esgotos com fins de produção de adubos e ainda a himalaíte, uma pólvora com base no clorato de potássio, entre outras. Mas o mais interessante é que já em 1908 o padre Himalaya defendia o uso de energias renováveis: a energia das marés, a generalização da energia eólica e a utilização dos ‘geisers’ para futura energia geotérmica. Morreria com 65 anos, em Viana do Castelo, no lar da Caridade, onde fora capelão. Apenas um ou outro jornal lembrou, numa magra coluna necrológica, o autor daquela famosa máquina solar que ganhara um primeiro prémio na América".
Esta, em resumo, a história de um dos mais brilhantes - e ao mesmo tempo desconhecido - inventores portugueses, que Jacinto Rodrigues, o autor, pretendeu dar a conhecer através de um longo processo de pesquisa e de recolha que iniciou em 1975. Através desta obra, refere o próprio, "pretendi mostrar que a preocupação pelas questões ecológicas, ao contrário do que se possa pensar, já possui raízes em Portugal há quase cem anos". Um trabalho que, segundo Rodrigues, se traduziu numa "biografia pós-moderna", tentando evitar o clássico trabalho academizado, através de uma duplicidade literária onde se dá a conhecer ao mesmo tempo a história construída e o diário de investigação. O livro vale não só pelo conteúdo como pela qualidade do resultado final, traduzido, entre outros exemplos, pela excelência das imagens e ilustrações.
Jacinto Rodrigues
Edição Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas
pp. 286