Dizem-me
Dizem-me
que
os homens estão mudando o ar, o mar e a terra, através de
disposições inventivas, cada vez mais invasoras dos eco-sistemas, a
desviar a razão de ser (se isso é possível) das relações entre
os seres vivos e as grandes massas de matéria inorgânica, entre as
subtilezas de todas as raizes de tudo, com milhões e milhões de
anos de existência, e os complexos sucessos da transformação no
Universo.
E
hoje, em espaços cada vez mais complexos e sempre na mira de mais
produção, mais necessidades ilusórias, a civilização embrulha
notícias e rasgões de sucessivas grandes guerras, mortandades
inomináveis, enquanto a globalização amachuca, como que em bolas
de papel, o resto dos discursos pacificadores ou as notícias do
alarme e do medo, jornais formando parte do lixo urbano, mal lidos,
mal avisados contra o império da imagem, dia a dia mais futilizado,
despejando sobre nós uma espécie de água
suja,
daquilo a que chamamos, fascinados, o mundo
virtual.
Eis
o que nos vai restando. Tudo cresce e soçobra com o tempo, a morte
substitui valores, memórias, a qualidade inquestionável do passado.
Todos os dias o dizem em disfarce, dizendo-me.
ROCHA
DE SOUSA
11 comentários:
Os "me"dia baralham-nos , atormentam-nos, informam...
Embora o desafio de hoje não incluisse a apresentação de texto, o seu é um belo texto declarativo da foto que escolheu.
Sim, muito belo este conjunto interventivo.
Por vezes, apetece-me não os ouvir.
Elucidativo
do papel-jornal,
e do papel que têm os poderosos meios de comunicação.
(a memória é um dom que fica, mesmo sepultado por séculos ou milhões de anos. Que o filho do homem a saiba ler!)
É uma uma sopa de letras azeda e indigesta que nos servem diáriamente!
A foto já só por si fala, de qualquer modo é interessante o texto que optou por nos oferecer.
Os MEdia enchem-nos os olhos, arrasam-nos a cabeça, apertam-nos o coração com as noticias publicadas.
Gostei de ler o texto.
Tudo passa com o tempo, alteram-se valores, as necessidades variam; é preciso a morte para substituir, para renovar, não para apagar as memórias.
Aqui, a imagem de escrita complementada com escrita foi uma opção feliz.
Não tinha percebido que a palavra que incluia a sílaba me deveria também integrar um texto. M, podes esclarecer?
De qualquer modo este texto é bem ilucidativo dos tempos que correm, do lixo informativo que corre, da indiferença com que se passa pelo que realmente interessa.
Teresa Silva
A ambição do homem não tem limites...
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