quinta-feira, janeiro 10, 2013

2. Benó


 
“Os muros feitos com as peças da Lego embelezavam a vivenda e um parque ajardinado que a Joana tinha construído durante toda a manhã. Estava muito vaidosa da sua obra e ansiosa pelo fim do dia para mostrar ao pai o seu trabalho. Fora feito com muito cuidado e todas as peças se encaixavam perfeitamente. Não se esquecera do Bobi, e pusera o Manelinho a preparar um grelhado no “barbecue”, junto duma árvore. Tudo muito arrumadinho como era hábito da Joana. 
Chegou a hora do lanche e o Pedro regressou da escola numa correria desenfreada e com uma pressa enorme de mostrar à mana aquele cromo difícil de arranjar e que acabara de ganhar num jogo de berlindes. A alegria de poder terminar a colecção dos jogadores de futebol via-se-lhe no rosto rosado por tanta excitação 
-Mana!!Mana!!! Grita, abrindo a porta do quarto e segurando na mão o troféu precioso. Não repara nas peças Lego e distraidamente atira a mochila para o chão, no sítio exato onde se encontra todo o trabalho da construção que se desmoronou e que era o orgulho da sua irmã.” 
Não sei como acabar a história, pois antevejo dois finais. 

Primeiro: A Joana chora, grita, chama parvo ao mano que muito triste lhe pede desculpa e os dois juntos acabam por repor as peças no lugar a tempo do pai chegar e ver tudo construído.

Segundo: A Joana chora, grita, chama parvo ao mano e num ataque de fúria feminina pega no avião feito também com peças Lego pelo seu irmão e atira-o ao chão desfazendo tudo.

A partir daqui é obrigatória a intervenção maternal para que não se forme um muro de desentendimento entre os manos.

Benó

9 comentários:

Anónimo disse...

Boa ideia. Há um jogo em tudo isto
e o muro enganador contra um mundo
que passa por cima de todas as barreiras. Por mim, acho que este
jogo, outrora exemplar porque não
trazia soluções à vista, torbou-se
num consumo de receitas.

Rocha de Sousa

M. disse...

Tão original esta escolha da Benó. E tão realista. Assim são os meninos aprendendo a ser adultos na sua dualidade de emoções e de socialização. Tão difícil já tão cedo!

agrades disse...

Muros,construções, desastres e autoridade, uma história e foto deliciosos.

Licínia Quitério disse...

Educar é ensinar também a derrubar muros de raiva, de intolerância. Imagem e texto ternurentos.

Luisa disse...

Uma ternura esta história mas ao mesmo tempo triste pela desilusão tão cedo sentida de que nada perdura, nem mesmo um muro de legos.

Justine disse...

Ah como as avós são sábias! Como sabem que os muros de desentendimento devem desfazer-se na altura em que se fazem...
Uma beleza!

mena maya disse...

temos que lhe dar asas eensiná-los a voar:-)

bettips disse...

Uma delícia esta escolha de foto-texto, Benó!!! Não falta o lazer, não falta o prazer nem o desfazer. É assim mesmo, intervindo com a persistência do adulto, explicando a efemeridade das "construções" e a consistência da amizade.

do Zambujal disse...

... muros da brincar
... muros para brincar
... muros de ternura.
Também os há!