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Da vida que vivi, olho para trás e os meus olhos querem chorar, foi tudo tão dorido, tão amarfanhado cá dentro, aquele menino que tanto desejei ainda antes, muito antes de ele ser gente, aquele menino a quem eu queria chamar Eduardo, porque deveria ser a continuação daquele pai estremecido, porque deveria ser lindo como o irmão que aprendi a amar por sobre a inveja, a inveja que sempre senti dele por ter nascido homem e lhe ser permitido tudo o que eu desejava e a mim era interditado.
Pai, quero fazer xixi.
Parava a carrinha e saíam os dois, aliviavam-se atrás de uma árvore próxima, por vezes encostados ao carro e voltavam a seguir, tranquilos. Eu nem me atrevia a pedir o mesmo, já sabia que era preferível aguentar até chegar a casa, tais eram os impedimentos. Ninguém nos podia ver agachadas, era feio, teríamos de entrar na mata, ficar atrás de uma moita ou de um pedregulho. E acrescia a dificuldade de tentar não molhar os pés…
Só a adolescência me fez esquecer esse sentimento de menina mimada quando lhe dava o braço, ufana, nas idas e vindas do colégio, o meu irmão mais velho que me achava bonita, o meu irmão que perdi tão cedo, o irmão que eu queria ter comigo… agora.
Jawaa
5 comentários:
Belas e tristes recordações
Luisa
Tão belo esse discorrer sobre a tua infância. E uma nostalgia pela perda, tão sentida.
Ficam-te as memórias ternas que connosco quiseste partilhar.
E agradeço.
A infância que nos acompanha pela vida fora deixando todo o tipo de marcas.
Aquelas saudades que nunca morrem, as feridas que se transformam em cicatrizes mas que continuam a doer...
há aqui 3 personagens masculinos certo? peço desculpa mas não sei se percebi bem a história.
coincidência o meu filho chama-se Eduardo
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