A minha vida em 4 tempos:
2. Imaginar
Imaginar provoca-me, leva-me para lá do meu mundo mais restrito. Num misto de realidade/fantasia me divirto e me enquadro no que me rodeia, até porque nem sempre distingo entre o que é e o que parece ser.
Idalina saía todas as manhãs, o cabelo ainda ruivo enrolado nos dias de sempre para não esquecer a cor dos anos. Ia a pé até ao jardim próximo de sua casa, sabia-lhe bem encontrar gente na rua, cruzar-se com as rotinas de alguns, imaginar vidas que desconhecia. Nunca tinha pressa, o portão de ferro forjado do jardim estava já ali, reconhecia-o à distância, pronto para a receber. Bastava aproximar-se e ele abria-se de forma mágica. Idalina sorria, parecia que lhe fazia uma vénia, como as que via nos pares a dançar a valsa em salões enormes cheios de brilhos e pedras preciosas dos filmes antigos. Deixadas para trás as tais memórias “só de filme” (dizem alguns), subia então a álea que a levava ao recanto verde com o banco encostado ao muro onde gostava de se sentar a recuperar da caminhada. Recostava-se nele de olhos fechados e às vezes quase adormecia. Abria depois a mala pousada a seu lado, retirava de dentro as agulhas de tricô e tricotava as horas em entremeios de lembranças.
M
6 comentários:
Lindíssimo texto, M!
Que bonito, este lençol com entremeios imaginados.
tenho de repetir o que escrevi no RC e o que li acima: um texto magnífico, uma fotografia belíssima.
Já tinha saudades desta tua magia de contar.
Gosto, gosto mesmo do que escreves e como escreves.
Para quando um livro???
tão amoroso da primeira frase à última. também sorri a acompanhar a Idalina, obrigada!
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