quarta-feira, outubro 11, 2023

6. M



Gosto muito de andar de comboio e já o usei em diversas ocasiões, em Portugal e no estrangeiro. Gosto do ambiente das estações, cada uma abrigada na sua arquitectura. Mais ousadas, menos ousadas na época em que foram pensadas e construídas, mais bonitas ou menos bonitas, mais amplas ou menos amplas, de acordo com as exigências do momento ou da previsão de necessidades futuras. Algumas imponentes, verdadeiras obras de arte. O ambiente das estações de comboio fascina-me. Os sons, os avisos transmitidos pelos altifalantes, os ecrãs digitais com informações sobre partidas e chegadas de comboios, tudo. São um espaço humano de intimidades e distanciamentos, de emoções, de sentimentos expressos, disfarçados ou escondidos. Adoro todo aquele movimento de passageiros, de pessoas conhecidas e desconhecidas que se encontram, se desencontram, se cruzam, se olham, se observam, se evitam. As bagagens que transportam consigo, as despedidas, os apertos de mão firmes, os abraços apertados, outros retraídos, o adeus emocionado às janelas das carruagens, os beijos, as lágrimas, os sorrisos. O comboio que parte à hora prevista e se afasta lentamente, as pessoas que não partem e se afastam também do cais a caminho ou descaminho das suas vidas. Tanta coisa partilhada ou perdida para sempre no Tempo! Dentro da carruagem, acomodados os passageiros nos seus lugares, emprega cada um as horas da viagem a seu gosto, necessidade ou rotina. Há quem leia; há quem ligue o computador; há quem não tire os olhos do telemóvel ou aproveite para pôr telefonemas em dia; há quem converse a propósito ou despropósito seja do que for; há quem se mantenha em silêncio; há quem durma; há quem apenas se deixe levar pelo andamento do comboio e espraie o olhar na paisagem que lhe refresca a vida ou o passado.

Julgo que a última viagem longa que fiz de comboio aconteceu em setembro de 2012, quando eu e uma amiga partimos da estação de Santa Apolónia ao encontro de uns amigos em Coimbra. Dois dias maravilhosos passeando a pé pelas ruas da cidade, terminando na beleza de um pôr do sol fotografado do alto do Museu Machado de Castro.

M

6 comentários:

Anónimo disse...

Belo texto sobre viagens de comboio. Há muito que não faço uma
Luisa

Licínia Quitério disse...

Com alma essa foto tirada do interior.

Mónica disse...

Gosto da fotografia de cima, é intrigante, a parte de cima parece arame farpado e a minha imaginação foi para outros lugares.

bettips disse...

E lá fomos nós, pelas palavras, divagando pelas estações e gentes delas.
Viagens de prazer, é isso!

Justine disse...

Tocas em todos os pontos importantes, num belo texto escrito ao ritmo do comboio! Deu gosto ler-te!

Anónimo disse...

Um texto maravilhoso acompanhado de excelentes fotografias.

Teresa