quarta-feira, outubro 25, 2023

7. Margarida


 

Para muitos é isto. Para mim também já foi.

Mas é tão simplesmente uma forma de chegar mais depressa a um qualquer lugar mais distante.

Podia contar muitas histórias com e dentro deste “autocarro do ar” mas não sei por onde começar.

Lembrei-me da Isla de la Juventud, Cuba, logo a seguir ao furacão Tânia. Não havia turismo, a ilha estava devastada e tudo estava mais barato. Boa oportunidade. Embora!

Durante essa estada fui acometida da pior crise de coluna de que tenho memória. Raúl Castro tinha acabado de suceder ao seu irmão. Climas quentes e húmidos são do pior para o esqueleto. As dores são intoleráveis, até respirar custa. Voava nesse dia para Havana numa avioneta das linhas aéreas cubanas. Daquelas avionetas que parece que se desfazem. Mas não.

O cenário, lá do céu, é magnífico.

A Barbarita, enfermeira reformada que nos acolheu durante 15 dias em Nueva Gerona no sistema de “casas particulares,” cuidou de mim como uma mãe. Do 1º. ao último dia. Como eu não conseguia andar, reuniu a família possível na hora da despedida: o primo José, taxista, levou-me ao colo até ao carro e de carro até à gare; a prima Elena, funcionária no aeródromo local, recebeu-me numa cadeirinha normal adaptada com uns rodízios; a irmã, Lúcia, tratou do meu check-in sem eu mexer uma palha - também não conseguia. E um outro primo, o Roberto, piloto da aeronave, cuidou que eu fosse deitada no corredor durante o voo. Não sei se legal, se ilegal, eu queria era estar deitada. E assim fui.

À chegada a Havana, a um “aeroporto como deve ser”, a equipa dos “discapacitados” esperava por mim, já numa cadeira de rodas a valer, pois haviam sido informados que viajava a bordo uma doentinha.

Esta história não é sobre aviões; é sobre a bondade, a solidariedade e a entreajuda que existe no povo cubano, que até hoje me sensibiliza e emociona.

Passados 15 dias recebi uma carta da Barbarita a saber como estava.

Mais palavras para quê?

Margarida

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