quarta-feira, outubro 25, 2023

9. Mónica

A viagem de avião mais longe que fiz foi à India, com muita turbulência sobre o Golfe Pérsico, aterradora, vi o filme “Robin Hood: heróis em collants” de Mel Brooks para me rir e distrair do medo, e a viagem mais curta foi a que não fiz, um avião que perdi porque cheguei na hora em que o embarque das malas fechou, dizem que foi um ato falhado, que não queria voltar para Angola. Foi um dia horrível, fiz tudo o que estava ao meu alcance para apanhar o avião durante as horas que o avião ainda esteve parado até ao embarque, ali, do outro lado do vidro, odiei todo o pessoal do aeroporto, a seguir foi a correria com as malas à agência de viagens da companhia aérea fora do aeroporto na tentativa de arranjar lugar noutro horário no mesmo dia, nada, tive que sujeitar-me a comprar um novo bilhete para a data mais próxima possível porque tinha pessoas à minha espera para me levarem dali ao destino final, entre chamadas telefónicas com o meu chefe que me dizia “desenrasca-te se não chegares a tempo escusas de vir”, o preço exorbitante que paguei do meu bolso por novo bilhete, voltar para casa, tentar viver mais uns dias sem desmanchar as malas e fingir que bom que era estar mais uns dias em Lisboa. Enfim, foi horrível perder o avião. Inesquecível não-viagem de avião.

Mónica

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