quarta-feira, dezembro 13, 2023

6. M


 

Gosto de tantos livros e a minha ligação com cada um deles é tão forte que não consigo escolher nenhum como preferido. Limito-me a mostrar esta reedição relativamente recente do outro onde aprendi a ler e a fazer contas. Comprei-a porque já não tinha o meu primeiro livro e pintei-o. Embora com os defeitos e qualidades de uma época, como todas com conceitos e programas de educação a ela associados, este livro abriu-me portas para mundos mais vastos. Lembro-me perfeitamente do entusiasmo com que fui conhecendo as letras do alfabeto, consoantes, vogais, maiúsculas e minúsculas, sílabas, palavras por elas formadas, frases, acentos, pontuação. Igualmente os algarismos, as operações e os exemplos concretos de Aritmética. Tudo isso acompanhado de imagens coloridas que me fascinavam. Pura magia foi aquelas palavras caladas nas páginas do livro, à espera de quem se interessasse por elas, absorverem também o som da minha voz e o meu pensamento quando passei a saber lê-las! Que coisa maravilhosa fazerem parte de mim e eu delas, e ser capaz de as desenhar! Primeiro num caderno de caligrafia com duas linhas, devagar, uma força imensa dos dedos da mão sobre a ponta do lápis de carvão quase a furar o papel. Depois, atrevendo-se a deslizar sobre uma só linha, mais independentes, às vezes fora do sítio, até parecia que saltavam à corda, para cima, para baixo, a borracha sempre pronta a “pô-las na linha”. Pouco a pouco, o treino a dar-lhes firmeza e perfeição, o meu cunho pessoal a afirmar-se, cada pessoa tem o seu, ligado à sua personalidade. Foi tão bom! E gostei tanto de pintar os desenhos da capa de dentro do livro com os lápis de cor da minha caixa de estimação. Que sorte tive entre tantas outras crianças a quem, nessa época longínqua, foi (e infelizmente continua a ser) negado algo tão essencial para as suas vidas.

M

6 comentários:

Anónimo disse...

Tive pena de não ter saboreado o livro da 1ª classe mas já sabia ler quando entrei para a escola primária. Quanto à escrita, foi pior. Nunca acertava nas linhas.
Luisa

bettips disse...

Já sabia ler com 5 anos. Mas nunca mais esqueço o "A" Águia e por aí fora.
Também comprei um novo mais tarde, por não saber do meu antigo. Com todos os defeitos da época tinha algo de fraterno e de companheirismo que se foi perdendo.

Justine disse...

O percurso que descreves assemelha-se ao que foi o meu: o livro com que aprendi a ler foi para mim o sujeito de uma aventura maravilhosa...

Mónica disse...

Também adorei aprender a ler e ansiosa pela aprendizagem seguinte. Passava à frente nos livros da escola, não percebia nada e depois da professora explicar era uma descoberta, magia como dizes. Tenho saudades do tempo em que tinha alguém credível para explicar coisas novas. Nos cadernos de caligrafia as primeiras linhas cumpria a disciplina depois era uma porcaria, ficava farta.

Anónimo disse...

Bonita evocação, Manuela. Não tenho qualquer memória dessas aprendizagens e tenho pena.

Teresa

mena maya disse...

Pura magia mesmo M., aprender a ler e a escrever.
Uma porta aberta para o mundo da fantasia, da aventura, do saber.
Mais um dos teus textos, que fazem as minhas delícias.