quarta-feira, dezembro 13, 2023

9. Mónica

Parece que há uma nova moda sobre o que se deve ou não escrever nos livros, se tem palavras ofensivas, o que é ofensivo, a começar pelos livros infantis, não vou discutir sobre isso, mas vou deitar achas para a fogueira. Quando era miúda e estava doente ou muito aborrecida da vida a minha mãe lia-me os livros da Condessa de Ségur, uma famosa escritora de livros para crianças que nunca mais ouvi falar ou de Charles Dickens que de vez em quando é ressuscitado com filmes dos seus livros. Passadas duas ou três páginas eu ficava logo boa com tantas doenças, castigos, fomes, mortes, pestes, órfãos, chicotadas, frio, farrapos, tamancos, histórias horríveis tristes de chorar. Parava ali a leitura. Ela dizia que eram as histórias que ela tinha lido na infância, ao que eu lhe dizia que os pais dela deviam ter sido muito maus por lhe terem comprado e deixado ler esses livros ditos infantis, tinha muita pena dela por ter tido uma infância povoada dessas histórias. Por isso conheço o princípio de muitos livros da Condessa de Ségur, Charles Dickens, Mark Twain, A Cabana do Pai Tomás o único livro sobrevivente numa edição de 1949, não sei se algum dia os lerei, não sei se teria sido melhor para mim se a minha mãe insistisse na leitura. Não sei o que perdi. Ainda bem que não sou eu que decido o que se deve ou não publicar, mas recomendo o livro “O Censor Iluminado” de Rui Tavares.

Mónica

7 comentários:

Margarida disse...

Mónica e Luísa a "fazerem pendant" (um galicismo dispensável) c/ a Condessa de Ségur:)

Anónimo disse...

O teu texto está giríssimo mas a Condessa de Ségur fez as delícias da minha infância
Luisa

bettips disse...

Tens uma certa razão mas talvez tivesses podido encontrar a diferença, de viver num mundo mais protegido versus os terrores que eram lidos.
Eu li toda a Condessa e todos os Cinco.

Justine disse...

Acho que vou seguir o teu conselho, e ler "O Censor Iluminado"!

M. disse...

Adoro este teu texto e compreendo-te.

Anónimo disse...

Também li esses todos e não tenho memória dessa sensação que descreves. Ao menos acabavam sempre bem.

Teresa

mena maya disse...

Também gostei do teu texto Mónica.
É engraçado ver como os livros despertam sentimentos tão diversos nas pessoas.