Que dizer dos espelhos que nos olham,
nos perseguem na sombra e na ausência,
nos explicam a luz e nos explicam,
abrem janelas no nosso pano escuro?
Persigo há muito a senda dos espelhos
a sua abismal e invisível distância
onde tudo descansa. Reinos virtuais
de nevoeiros e acordes improváveis.
Os espelhos não dormem. São atentos
ao nascimento e à morte de imortais.
Intacta guardam a memória dos que
na sua transparência se colaram.
Quem dera ao entardecer os penetrasse
o frio diamante do meu peito
e os incontáveis braços das ausências
comovidos, rendidos, me pegassem.
Licínia
quinta-feira, dezembro 13, 2012
5. Licínia
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7 comentários:
e de certo modo te pegam te renovam e repassam -
creio que muitos espelhos são irreais ou que nem todos são "verdade"... :-)
~
E os espelhos do poema
trazem-te intacta e (sempre) abraçada!
Por isso os fazes e te reflectem assim, não-ambígua mas solenemente atenta à luz e à vida.
Quase uma brincadeira de Natal, a
esfera que relecte quase como o es-
pelho: os sonhos e os rostos passam
por ali. E o texto é uma peça que
nos mobiliza de perto nas imagens
literárias magníficas
Belíssimo texto/poesia inspirado numa simples bola de brincar.
A beleza de um poema da vida. Um dos muitos que a vida pode conter, como, por exemplo, aquele que a bola de Natal lembra. Lindo e sábio este conjunto de imagem e palavras.
Sempre contando o incontável à nossa maneira, única e transmissível, e não por uma questão de contas... outras, das que se contabilizam e dão sempre défice.
A poesia é, por vezes, como os espelhos: mostram a outra face da realidade...
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