quinta-feira, dezembro 13, 2012

5. Licínia



Que dizer dos espelhos que nos olham,
nos perseguem na sombra e na ausência,
nos explicam a luz e nos explicam,
abrem janelas no nosso pano escuro? 

Persigo há muito a senda dos espelhos
a sua abismal e invisível distância
onde tudo descansa. Reinos virtuais
de nevoeiros e acordes improváveis.

Os espelhos não dormem. São atentos 
ao nascimento e à morte de imortais.
Intacta guardam a memória dos que
na sua transparência se colaram.

Quem dera ao entardecer os penetrasse
o frio diamante do meu peito
e os incontáveis braços das ausências
comovidos, rendidos, me pegassem.

Licínia

7 comentários:

~pi disse...

e de certo modo te pegam te renovam e repassam -
creio que muitos espelhos são irreais ou que nem todos são "verdade"... :-)







~

bettips disse...

E os espelhos do poema
trazem-te intacta e (sempre) abraçada!

Por isso os fazes e te reflectem assim, não-ambígua mas solenemente atenta à luz e à vida.

Rocha de Sousa disse...

Quase uma brincadeira de Natal, a
esfera que relecte quase como o es-
pelho: os sonhos e os rostos passam
por ali. E o texto é uma peça que
nos mobiliza de perto nas imagens
literárias magníficas

Luisa disse...

Belíssimo texto/poesia inspirado numa simples bola de brincar.

M. disse...

A beleza de um poema da vida. Um dos muitos que a vida pode conter, como, por exemplo, aquele que a bola de Natal lembra. Lindo e sábio este conjunto de imagem e palavras.

Zambujal disse...

Sempre contando o incontável à nossa maneira, única e transmissível, e não por uma questão de contas... outras, das que se contabilizam e dão sempre défice.

Justine disse...

A poesia é, por vezes, como os espelhos: mostram a outra face da realidade...