Os
muros da casa em ruínas destacavam-se no alto de um pequeno cerro e
faziam parte de uma sucinta e abandonada aldeia, longamente destruída
pelo tempo e pelos vândalos de passagem. Era um espectáculo triste
e trágico, uma habitação campestre cujos muros ainda se aguentavam
erguidos, em parte e a prumo, embora de limites mordidos e de
superfícies raspadas pela chuva e pelo vento. Os muros sustentavam
ainda um bocado de telhado, abertos à frente, até um alpendre de
telha e suporte de colunas rústicas, fortes sombras sob essa
persistência, bocados de luz atravessando a soma de vigas tombadas e
apoios feitos de troncos, o que sugeria uma sobrevivência arrastada
dos camponeses atrás dos muros propriamente ditos, da casa em si, à
luz das candeias durante a noite, cá fora durante o dia, sustentando
o que ainda podia ter sustentação. Um dia, entre rupturas nas
paredes internas e nos muros exteriores, toda a família teve de
abandonar essa casa que hoje não passa emblematicamente de uma
paisagem de muros ainda erguidos entre o resto da sucessiva
derrocada.
Uma
imagem da vida.
Uma
imagem da morte.
Rocha
de Sousa
9 comentários:
Tão bonita esta fotografia a trazer-me à ideia o livro e o filme "O Monte dos Vendavais" de Emily Bronte. Não que seja igual à trama do livro da escritora inglesa, mas talvez também pelo que o texto sugere da vida que teria existido dentro daquele lugar.
"Uma imagem da vida".
"Uma imagem da morte".
Aqui e na escrita da escritora inglesa. E igualmente na sua vida real.
Pouco muro, muita ruína...
Também me lembrei do Monte dos Vendavais. A ruína das casas e a ruína das gentes. Dramática foto.
Um exemplo triste mas belo porque alguma coisa ficou dessas vidas arruinadas.
Uma imagem triste e belíssima! O texto, a dizer da resistência dos muros e dos homens...
Os muros que foram casas e vida e hoje são ruína e morte...
Que pedem uma boa foto e um texto
sensível.
Assim foi feito.
Por estes tenho sempre uma certa ternura...
Tudo o que foi dito acima eu teria dito também. Muros que foram suporte de vivências e hoje são ruína.
Triste.
Duma tristeza impressionante, a não-cor. E a descrição tão bem feita, que desejaríamos fosse o início de um livro. Saber para trás, que sorte-feliz e morte-abandono a fizeram assim.
Tal como à Mena, estes muros enternecem-me, entretecem-me o pensar.
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