quinta-feira, janeiro 10, 2013

11. Rocha/Desenhamento



Os muros da casa em ruínas destacavam-se no alto de um pequeno cerro e faziam parte de uma sucinta e abandonada aldeia, longamente destruída pelo tempo e pelos vândalos de passagem. Era um espectáculo triste e trágico, uma habitação campestre cujos muros ainda se aguentavam erguidos, em parte e a prumo, embora de limites mordidos e de superfícies raspadas pela chuva e pelo vento. Os muros sustentavam ainda um bocado de telhado, abertos à frente, até um alpendre de telha e suporte de colunas rústicas, fortes sombras sob essa persistência, bocados de luz atravessando a soma de vigas tombadas e apoios feitos de troncos, o que sugeria uma sobrevivência arrastada dos camponeses atrás dos muros propriamente ditos, da casa em si, à luz das candeias durante a noite, cá fora durante o dia, sustentando o que ainda podia ter sustentação. Um dia, entre rupturas nas paredes internas e nos muros exteriores, toda a família teve de abandonar essa casa que hoje não passa emblematicamente de uma paisagem de muros ainda erguidos entre o resto da sucessiva derrocada.

Uma imagem da vida.

Uma imagem da morte.



Rocha de Sousa

9 comentários:

M. disse...

Tão bonita esta fotografia a trazer-me à ideia o livro e o filme "O Monte dos Vendavais" de Emily Bronte. Não que seja igual à trama do livro da escritora inglesa, mas talvez também pelo que o texto sugere da vida que teria existido dentro daquele lugar.
"Uma imagem da vida".
"Uma imagem da morte".
Aqui e na escrita da escritora inglesa. E igualmente na sua vida real.

agrades disse...

Pouco muro, muita ruína...

Licínia Quitério disse...

Também me lembrei do Monte dos Vendavais. A ruína das casas e a ruína das gentes. Dramática foto.

Luisa disse...

Um exemplo triste mas belo porque alguma coisa ficou dessas vidas arruinadas.

Justine disse...

Uma imagem triste e belíssima! O texto, a dizer da resistência dos muros e dos homens...

do Zambujal disse...

Os muros que foram casas e vida e hoje são ruína e morte...
Que pedem uma boa foto e um texto
sensível.
Assim foi feito.

mena maya disse...

Por estes tenho sempre uma certa ternura...

Benó disse...

Tudo o que foi dito acima eu teria dito também. Muros que foram suporte de vivências e hoje são ruína.
Triste.

bettips disse...

Duma tristeza impressionante, a não-cor. E a descrição tão bem feita, que desejaríamos fosse o início de um livro. Saber para trás, que sorte-feliz e morte-abandono a fizeram assim.
Tal como à Mena, estes muros enternecem-me, entretecem-me o pensar.