As férias podem ser muita coisa. E podem ser inesperadas, geralmente as melhores. Assim de repente lembro-me de umas surreais, na Noruega. Mas começo pelo princípio.
Era então assinante da revista Volta ao Mundo, que me fazia sonhar através das suas páginas, ainda vazias de publicidade. Nesta revista, como em muitas, havia um espaço dedicado às “Cartas dos Leitores”. E um dia li uma carta da Sandra de Braga que se queixava de não ter ninguém com quem viajar, já que era rapariga solteira. Senti uma certa empatia com a Sandra de Braga, não que me queixasse do mesmo mas porque me perguntei: “Porque não”? E contactei-a.
Tinha muito pouco dinheiro mas milhas aéreas para gastar, antes que caducassem. E tentei ir o mais longe possível, na Europa, para as aproveitar ao máximo. Escolhi Oslo, porque não conhecia mas também porque a Sandra de Braga também alinhou. Só mais tarde percebi porquê. E combinámos o encontro numa determinada Pousada da Juventude, na capital norueguesa, no dia x às tantas horas.
Sei que tinha 7.000 escudos, na altura. Impossível transformar este montante em euros, aos dias de hoje. Sei que era manifestamente muito pouco, principalmente para um país caro como aquele. Mas tudo se resolve e pode-se viajar barato. Tratada a viagem e a dormida, parti.
A pousada era giríssima, moderna, quentinha, quartos mistos, pequena qb, WCs limpos, bastante central, com cozinha utilitária e mais não sei o quê. Gostei. O rapaz da recepção era português. Acomodei-me, tratei de saber dos supermercados, dos transportes e do posto de turismo. Fiz o jantar e dormi. O dia seguinte prometia, já que me ia encontrar com a Sandra de Braga.
E lá estava ela na recepção, no dia seguinte e à hora combinada. Reparei só que tinha um peito bastante avantajado. E falámos português, foi isso que nos uniu e pouco mais. Passeámos um pouco e decidimos ir a Bergen, de comboio. Ela já conhecia mas eu não. E já tinha lido e ouvido falar do caminho dos fiordes, muito bonito. O dinheiro estava controlado e lá fomos nós, todas portuguesas, passear.
Ao nos apearmos em Bergen, a Sandra de Braga, já conhecedora daquelas ruelas, vira-se para mim e diz-me: “Olha, tenho de ir ali a um sítio, queres vir comigo ou continuas?”. E eu pensei, vou com ela, afinal de contas, foi pouco tempo para nos conheceremos. E segui a Sandra de Braga, mestre cicerone em Bergen.
Entrou decidida numa loja modesta, de esquina e vitrines limpas e à qual eu chamaria de retrosaria, se estivesse em Portugal. Mas uma retrosaria nórdica, mais minimal e cuidada. Lá dentro, figurinos noruegueses vestiam lingerie: cuecas, soutiens, meias altas, meias baixas, enfim, uma panóplia de rendas e rendinhas. Tudo aquilo me parecia estranho mas ao mesmo tempo interessante. O que faria a Sandra de Braga ali, tão decidida e tão familiarizada com aquele espaço? E fiquei a ver rendas, enquanto ela pedia, em inglês, vários soutiens para escolher. Reparei que a copa era gigante, de facto ela tinha mamas grandes. Muito grandes. Pediu a minha opinião entre o verde-água rendado e o branco-pérola opaco. Dei a minha opinião. A Sandra de Braga comprou 4 soutiens, ali e à minha frente, em férias, em Bergen, na Noruega. Todos XXL, copa C-DDD.
Saídas da loja, perguntei: “Vens a Bergen só para comprar soutiens”? Ao que a Sandra de Braga me responde, muito segura de si e do seu peito: “Sim, há muitos anos que venho aqui, são os melhores soutiens para o meu peito, não encontro iguais em Portugal e não é qualquer um que se adapta ao que preciso”. Hilariante.
A Sandra de Braga seguiu para Oslo, para o seu quarto da sua Pousada da Juventude e eu segui para os Fiordes Noruegueses. E o dinheiro deu para 1 semana. Nunca mais vi a Sandra de Braga.
Há férias e férias.
Margarida
6 comentários:
:)))) muito bom! A Sandra de Braga arranjou alguém para decidir a cor do soutien, e esta hem?!
Que história tão engraçada!!!
Lusa
Às vezes as aventuras correm bem! Muita graça.
Acho que a Sandra, de Braga, nunca te esqueceu...
Achei o máximo! Será que a Sandra de Braga também não te esqueceu?
A história está bem contada, com humor. Viagens como esta tua nunca se esquecem...
Uma graça esta tua história verdadeira. Ri-me contigo a imaginar as cenas descritas.
Enviar um comentário