quinta-feira, maio 28, 2020

AGENDA PARA JUNHO DE 2020

Proposta de Licínia
Uma imagem vale mais que mil palavras.”, conceito atribuído a Confúcio, faz parte do saber popular e continua a ser abundantemente citado. Neste tempo de vedetização da imagem, lembrei-me de o trazer para aqui, a dar o mote para o calendário do mês de Junho. Assim, passo aos tópicos de cada semana, que farão o favor de desenvolver e ilustrar com fotografia.
Boa inspiração para o desafio que a M. nos proporciona.
Dia 4 - Quando a paisagem entra na foto.
Dia 11 – Retrato de família.
Dia 18 – Imagens em movimento.
Dia 25 - O real-virtual.

O DESAFIO DE HOJE

Proposta de Justine
Provavelmente Alegria
(A vida não está para graças! O peso dos dias dobra-nos, sendo necessário ir inventando forças sabe-se lá onde, cada dia, todos os dias! Pensei então: e se passássemos um mês inteirinho a inventar alegrias? Não seria demais, pois não? E bem poupadinhas, até podia ser que durassem até ao fim do ano. Vamos então todos, durante Maio, à descoberta de alguma alegria!)
Gostaria que os vossos textos fossem acompanhados de fotografia


Dia 7 - As alegrias do meu amanhecer
Dia 14 - Se eu fosse ainda criança
Dia 21 - Os meus antónimos de alegria
Dia 28 - A Arte, fonte de alegria

13. Zambujal

12. Teresa Silva



É uma alegria juntar a arte da jardinagem com a arte da fotografia. 
Teresa Silva

11. Rocha/Desenhamento


Pintura de Carlos Carreira proposta de ROCHA DE SOUSA

10. Mónica


 
A arte, fonte de alegria

Sem dúvida a arte é fonte de alegria e é também uma forma de expressão da alegria. A forma de arte que mais gosto, que considero suprema, chega-me por todos os canais de comunicação: é auditivo, é visual, é cinestésico, é Ballet. Adoro. Se posso vou uma ou duas vezes por ano. Ballet dançado pela minha filha Catarina, com 6 anos, no último ano do infantário, encomendada pela professora em duas escolas, é muita alegria com muita emoção, é a minha mãe sentada na primeira fila do teatro São Luiz lavada em lágrimas, como ela dizia, coitadinha tão pequena, tão precoce, parece uma macaca amestrada, a minha mãe achava mal atividades artísticas em crianças, mas neste caso era a neta a divertir-se, sem pressão nem objetivos comerciais, e a miúda portou-se mesmo bem, sem esforço, muito séria, muito orgulhosa, muito certinha, a sentir a música, ali no palco embrenhada no seu mundo, como lhe era tão típico.
Mónica

9. Margarida



Que arte maior existe que esta beleza escavada em grutas, que esta alegre tonalidade quente de quase fim de dia, que esta paisagem verdejante, fonte de cor?
Margarida

8. M.



A arte das pequenas coisas. 

M 

(«Designed and handmade in England by David & Candida Lethbridge especially for “Best of British” Windsor.»)

7. Luisa


A Arte, como fonte de alegria, pode estar em muitos lugares, às vezes bem próximos. Este é um portal manuelino da Igreja de S. Francisco, em Alenquer, que sempre me encantou.

Luisa

6. Licínia


A Arte, superior expressão das pulsões humanas, quantas vezes permanece para fruição das gerações vindouras. Quem não sente um profundo júbilo ao contemplar as proporções ideais de uma estátua grega ou a frescura quase palpável dos nenúfares de Monet ou a ousadia de um Gugenheim ou um retrato de Pomar, para só citar alguns exemplos que de súbito me ocorrem? A Arte, fonte de alegria, foi o que me sugeriu a apropriação por um casal de cegonhas do capitel belíssimo de uma coluna coríntia.

Licínia

5. Justine



Tanto pode ser o júbilo da Ode à Alegria de Beethoven na sua 9ª; ou podem ser os tons vivos de Le Bonheur de Vivre e o movimento de La Dance de Matisse; ou ainda A Rosa Púrpura do Cairo ou Meia-Noite em Paris de Woody Allen, de onde se sai com o coração quentinho – todas estas obras nascidas da criatividade do Homem nos transmitem alegria! Escolhi mais um exemplo: a literatura, neste caso a poesia, pela mão ainda pouco treinada de Saramago:

Madrigal

Foi milagre? Ideia louca.
Mas que mais posso dizer
Desta profunda alegria
De ver a alma aparecer
No riso da tua boca?

Ainda se fosse a tua,
Bem seria,
Mas a minha que faz lá?
Parece um caso da lua
(tais coisas não são de cá)
Andar-me a alma contigo:
Foi milagre: bem o digo.

(fotografia do livro de onde retirei o título deste desafio: Provavelmente Alegria, José Saramago, Livros Horizonte. Poema citado: pág. 89)
Justine

4. Jawaa



A Arte, fonte de alegria, desde logo enrolada nos livros bordados de palavras, rendilhados delas na escrita, as cores misturadas nos pincéis, o ritmo na dança na música, o movimento a forma. A Arte em cada peça delineada pelas mãos do homem, da pedra ao metal às tecnologias, a arte insuperável da natureza, a criação a evolução, o delinear do belo em cada estação, em cada latitude.
Arte é Vida.

Jawaa

3. Isabel



A arte para mim é fonte de alegria porque gosto de coisas belas (embora a beleza seja tão subjectiva...) e porque foi a arte (pintura, literatura, bailado, teatro... ) que me fez sair da minha concha de timidez excessiva e perceber que sou igual a toda a gente.
A arte ajudou-me a crescer, a perceber-me e a perceber os outros.
A arte pode salvar-nos!
Isabel

2. Bettips

1. Agrades



Arte é um olhar, um sentir, uma emoção. 
Agrades

quinta-feira, maio 21, 2020

AGENDA PARA MAIO DE 2020

Proposta de Justine
Provavelmente Alegria
(A vida não está para graças! O peso dos dias dobra-nos, sendo necessário ir inventando forças sabe-se lá onde, cada dia, todos os dias! Pensei então: e se passássemos um mês inteirinho a inventar alegrias? Não seria demais, pois não? E bem poupadinhas, até podia ser que durassem até ao fim do ano. Vamos então todos, durante Maio, à descoberta de alguma alegria!)
Gostaria que os vossos textos fossem acompanhados de fotografia

Dia 28 - A Arte, fonte de alegria

O DESAFIO DE HOJE

Proposta de Justine
Dia 21 - Os meus antónimos de alegria

14. Zambujal

Os meus antónimos de alegria…


 
um até se chamava Antónimo,
e calhou-nos na rifa;
o outro era Francoamente
antónimo de alegria (gritava viva la muerte!);
o 3º, meio recolhido, em 2º plano, ao Cerejeira
para colocar a cereja no cimo do abraço;
o 4º antónimo (são 4 os elementos, não são?)
é o vírus destes dias de hoje,
um pandemónio!

Zambujal
(nascido no
Ano da morte de Ricardo Reis)

13. Teresa Silva



É uma tristeza ver como o nosso património está em ruínas. 
Teresa Silva

12. Rocha/Desenhamento



Passo lateralmente a este «jardim» que se deixa atravessar por linhas de água, lenta e quase limpa reflectindo a luz ambiente e a própria vegetação reflectindo a luz própria da vegetação em redor. Paro. Sinto que o meu espírito se apazigua, um pouco no modo de se interrogar calmo e contemplativo. É uma alegria mansa, algo de dentro, nenhuma mecânica agitada. Fotografo e reinstalo a imagem, estabilidade quase geométrica, cada resolução desse género se pode ligar a um estado de espírito em alegria, de distensão mansa e grata nos modos, mesmo quando se retrata personagens ou desastres principais. 
Tudo parece poder agregar o mesmo critério numa espécie de exemplaridade, embora a percepção do real tenha em conta alguma desconfiança, a existência de dois detritos, papel branco e amarotado em baixo, outro, mais secreto e negro, aparecendo no canto superior do enquadramento da calçada, pois já velho e de ritmo ondular mais leve que se fazia um século atrás. Tudo isto perturba-me (deprime) de ansiedade, perplexo com uma boneca de trapos, rasgada e suja, que aparece lá mais adiante, como se tudo ali tivesse destruído um pequeno universo de brincar entre simulações e perdas.
ROCHA DE SOUSA

11. Mónica


 
Os meus antónimos de alegria
O que serão os meus antónimos de alegria? Parece-me que se podem resumir a um, para simplificar e para não ter que pensar muito em muitas coisas desagradáveis, assim fico-me pela mentira. A mentira foi um letreiro de letras grandes e luminosas que me acompanhou durante os dois anos que vivi em Benguela. Não sabia que isto existia. Senti-me a viver rodeada de pessoas tão escorregadias como uma lâmina de água no pavimento de uma estrada. Concentrei-me em ouvir e estar calada, em caminhar atenta com o olhar no infinito, a ver e registar para mim, a desconfiar dizendo que estava tudo bem. A mentira está nos contrastes sociais, económicos, na luta de sobrevivência, na falta de condições básicas de vida, não há torneira, não há interruptor, há escola sem cadeiras, há janelas sem vidros e sem redes mosquiteiras, há casas sem chão, há guardas que são contratados à empresa do chefe da policia, há colegas que roubam fuba e açúcar para dar de comer em casa, há homens que usam as mulheres a seu bel-prazer porque é assim, há quem diga que tem um amigo general para facilitar, há quem conduza sem carta e paga a gasosa, há quem se queixe que o estado lhe ficou a dever milhões, há quem peça a comissão do negócio, a lista não acaba. A mentira estava em tudo e em todo o lado, era oficial, era o modo de vida, estava na minha casa, no meu trabalho. A fotografia mostra as camadas da vida em Luanda, eu estava num condomínio fechado (esqueçam a noção turística de condomínio fechado) com guardas, gerador próprio, piscina vazia, e da minha janela fotografei o que me rodeava, até onde a máquina fotográfica alcança mostra as gruas do progresso e da dita civilização. Da outra janela via um campo de bananeiras com um riacho de águas paradas que servia para a lavagem de carros, um trabalho vulgar feito com um balde de água e um pano, e crianças brincarem. Tudo era mentira sob o ponto de vista dos meus valores, do meu senso comum, para mim foi-se a alegria.
Mónica

10. Mena M.



A má comunicação, a prepotência de uns e a cegueira de outros, que infelizmente tem crescido, o abandono do património, a miséria humana e também a tristeza de ver as crianças tristes, são alguns dos meus antónimos de alegria. 
Mena

9. Margarida



Um antónimo de alegria?
Natural e instintivamente me lembrei do Payaso António, caracterizado, maquilhado e pintado. Um flautista incrível, tocando e alegrando as gentes que passavam, as muitas gentes que passavam diariamente na Praça da Independência, em Montevidéu, Uruguai, já lá vai o ano de 2008.
Instalava-se bem cedinho, pela manhã, acompanhado da sua malinha de cartão de onde saíam os artefactos mais incríveis e coloridos que jamais vi. O António tinha o dom de os metamorfosear.
Tive o prazer, a honra e a felicidade de falar com ele, manhã a manhã, todas as manhãs. Era triste mas alegrava. Vivia num vão de escadas, mas sorria. Alimentava-se de um cabaz social, igual todos os dias. Enchia balões cheios de nada. Conhecia e amava o fado português. Enviei-lhe 1 triplo CD, quando cheguei, para 1 apartado sem rosto.

É um antónimo de alegria que querem?
É quando rimos, chorando.

Margarida

8. M.



Somos como flores delicadas de tempo breve que, dependendo da espécie e do lugar onde nascem, correm muitas vezes o risco de ser ignoradas ou espezinhadas. 
Constatar esta realidade é uma sombra incómoda a pairar sobre a alegria que eu desejaria plena. 
M

7. Luisa



São muitos os meus antónimos de alegria mas dou um exemplo com esta foto de 1937- de que me lembro bem - pois chorei por ter sido interrompida na minha viagem de triciclo para pousar para esta foto na qual, ainda por cima, tive de ficar de pé. 
Luisa

6. Licínia



DESENCANTO, quando a vida nos leva por trilhos enviesados e nos coloca à mercê de esmolas, agora eufemisticamente chamadas ajudas solidárias. 
Licínia

5. Justine



A amargura de saber uma criança maltratada; a consternação por haver homens que escravizam homens; o luto por um amigo que morreu; o desconsolo da solidão; o desgosto por ver a natureza assassinada; a indignação por haver gente que se aproveita da infelicidade de todos para seu único proveito; a tristeza por viver tempos em ruína! 
Justine

4. Jawaa



Os meus antónimos de alegria são a saudade que grassa em cada dia que me acrescento. Agora, o instinto de sobrevida a enfrentar o mundo como infectada por um ser que não é, rosto de hijab e mãos escondidas, como leprosa a evitar contágio. 
Jawaa

3. Isabel



Os meus antónimos de alegria são em primeiro lugar tudo o que faz sofrer as pessoas que amo. Em segundo lugar o que destrói o Planeta. Em terceiro lugar as injustiças. 
Isabel

2. Bettips



Os meus antónimos de alegria são muitos, nem sequer sou uma pessoa muito alegre. A pobreza, a injustiça, a desigualdade social, a hipocrisia, o lixo, o barulho, muita gente junta, a destruição da Natureza... algumas. Escolhi esta fotografia que engloba vários destes meus pesares: numa rua de uma grande e turística cidade, os traços de abandono de alguém que ali dorme. 
Bettips

1. Agrades

 

Os meus antónimos de alegria são a doença, a desilusão e o desinteresse. 
Agrades

quinta-feira, maio 14, 2020

AGENDA PARA MAIO DE 2020

Proposta de Justine
Gostaria que os vossos textos fossem acompanhados de fotografia

Dia 21 - Os meus antónimos de alegria

O DESAFIO DE HOJE

Proposta de Justine

Dia 14 - Se eu fosse ainda criança

14. Zambujal

Se eu fosse ainda criança…
mas somos todos a criança que fomos
(Provavelmente com alegria
todos os que não têm a barriga vazia)

   
Mas…
meninos?, quantos o não foram?
Por isso lembro, e homenageio
Soeiro Pereira Gomes,
que escreveu um livro, há 80 anos,
para os filhos dos homens
que nunca foram meninos




Zambujal

13. Teresa Silva



Se eu fosse ainda criança, possivelmente andava por aqui, a subir e a descer. 
Teresa Silva

12. Rocha/Desenhamento



Se eu fosse ainda criança, tanto como o meu filho aqui balbuciando os primeiros sons, apontaria o meu rosto às criaturas que se aproximassem de mim e dir-lhes-ia: sou filho de alguém e esta senhora está a cuidar do meu crescimento e dos que se aproximarem de mim na esperança do meu bom desenvolvimento, em todos os aspectos, do ver à razão apontando a esperança no homem de amanhã. 
Rocha de Sousa

11. Mónica



Se eu fosse ainda criança, ainda!?, primeiro seria muito infeliz e a seguir trataria de me tornar adulta. Lembro-me tão bem que tive pressa de crescer, a minha avó paterna dizia que eu já tinha nascido velha, sempre de sobrolho franzido, para a minha mãe eu era uma refilona, pareces uma velha chata. Lembro-me de discutir com os meus pais as ordens “comem na cozinha” ou “vão dormir” ou “saiam da sala” porque há visitas ou porque os assuntos não eram para crianças ou “é assim porque eu é que mando”, o argumento xeque-mate. Não me calava, os meus pais ainda ensaiavam o argumento “os avós nunca me deram hipóteses de falar assim com eles”. Como se isso me interessasse. Nem os meus avós me interessavam, tratavam-nos como seres sem voto na matéria, pedir licença para falar, isso é que era bom. Quando era criança tinha muita liberdade, três ou quatro obrigações, uma família de gorilas como dizia o meu pai e a meu ver havia também muita injustiça com as crianças, muitos segredos, muitos tabus e mais tarde como rapariga outras tantas injustiças apesar da minha mãe ter iniciado a luta de emancipação feminina na família. Lembro-me tão bem de ter pressa para crescer para ser dona da minha vida, nunca mais ter que comer sopa, vestir-me à minha vontade, não ter que andar de cabelo rapado, não receber ordens estúpidas sem uma explicação, não levar tabefes do meu irmão mais velho, ter a minha casa com as minhas coisas sem explicar porquê que as guardava sem sofrer os raides de deitar para o lixo que a minha mãe de vez quando fazia, para que é que guardas tanta porcaria. Mal sabia eu que, adulta, haveria de copiar os comportamentos dos adultos e continuar a receber ordens estúpidas sem explicações, como se eu fosse um adulto sem cérebro. Pois é, ainda assim gosto muito de ser adulta, não abro mão das minhas conquistas, do meu estatuto de autonomia, da minha declaração de independência, não quero ser criança, nem ainda nem outra vez, peço desculpa mas não entro na brincadeira ahahahahah 
Mónica

10. Mena M.



Se eu fosse ainda criança, continuaria a olhar o mundo com a mesma curiosidade que sempre me foi característica.
Se eu fosse ainda criança, continuaria a amar o mar, que sempre me fascinou.
Se eu fosse ainda a criança pré adolescente, teria gostado de saber que muitas das crianças de que tomei conta, nunca iriam esquecer o impacto que nelas tive e que ainda hoje me lembram com todo o carinho.
Se eu fosse ainda criança, gostava que os meus pais tivessem tido tempo e disponibilidade para nos conhecerem melhor, um por um, de mais perto, porque todos éramos diferentes, cada um com as suas maneiras de ser e sentir, com os seus gostos, as suas inclinações e preferências. Reconheço que com 14 filhos e um pai, "pássaro" de profissão, é quase impossível
Se eu fosse ainda criança, teria ficado feliz ao saber que nunca deixei de viver no peito da adulta que hoje sou.

Mena

9. Margarida



Se eu fosse ainda criança não perceberia nada de vírus, esses bicharocos invisíveis e malandros. E então viveria a espuma dos dias muito mais doce, despreocupada e levianamente. Fosse eu ainda criança. 
Margarida

8. M.


 
Se eu fosse ainda criança voltaria a gostar de receber este postal e de sentir o mesmo prazer que tenho sempre que lhe pego e leio as palavras escritas pela minha Mãe. Nada mudaria em mim para lá de um pequeno ajuste no meu tamanho de adulta.
1952, a segunda guerra mundial ainda presente na lembrança e na vida das pessoas. Em viagem de automóvel através dos vários países da Europa em reconstrução, os meus Pais enviavam-me postais engraçados com palavras carinhosas. Era uma alegria quando chegavam à caixa do correio.
2020. O mundo em sofrimento, a Europa em pesadelo. Uma vez mais os dias e os meses desabando e reconstruindo-se. O postal desdobrando-se em harmónio no todo que é. Eu reconhecendo-me nele.

M

7. Luisa



Se eu fosse ainda criança estaria agora a pensar para que praia me levariam os meus pais neste verão. 
Luisa

6. Licínia



Se eu fosse ainda criança e não tivesse já passado muitas décadas a crescer e a diminuir, que assim se faz o nosso breve ciclo entre o nascer e o morrer, se assim não tivesse sido e eu permanecesse naquele estado a que se costuma chamar “dos anos felizes e despreocupados”, quem seria eu agora? 
Só pelo absurdo se pode falar de um tempo irreal, mas pode-se fazer um esforço. Pode-se falar dos passeios pela mão do pai, do papel dos rebuçados que se pegava aos dedos, das festinhas na cabeça feitas pela mão sapuda do vizinho Nicolau, dos joelhos esfolados no saibro do caminho, do sumo das ameixas vermelhas a escorrer pelo bibe, de brincar às casinhas com a amiga Milu, de ouvir cem vezes a história do gato das botas, das primeiras letras aprendidas, b a bá, e a magia a acontecer. Foi tudo isto a infância e tudo o mais que se apagou da memória, mas que persiste num lugar escondido e nos faz gostar disto ou daquilo, reagir desta ou daquela maneira, sem explicação, apenas porque sim, porque afinal a criança ainda vive connosco e viverá e nos falará de Alegria, provavelmente. 
Licínia

5. Justine



Se eu fosse ainda criança, agarrava na toalha de praia bem aberta por cima da cabeça e desatava a correr pelo areal, transformada numa ave à procura do vento propício para levantar voo.
Mas como os ossos já não me permitem tal feito, caminho devagar pelo mesmo areal agora um pouco mais soturno, serenamente pensando que talvez a alegria seja igual… 
Justine

4. Jawaa



Se eu fosse ainda criança teria de alargar o tempo, o tempo de encanto de cada caminhada na vala por entre os peixes escorregadios, por cada sorver de água fresca e ferrosa da nascente, por cada dentada nos favos de mel fresco, por cada dentada nas goiabas verdes, trepada na árvore que crescia junto ao tanque onde minha mãe lavava roupa na água corrente. Se eu fosse ainda criança teria a mão forte de meu pai a apertar a minha mão pequenina no escuro da horta, afastando todos os medos do mundo. 
Jawaa

3. Isabel



Se eu fosse ainda criança...

Brincava horas seguidas no quintal da minha casa ou às vezes na rua, no Verão.
Brincava com as bonecas e às casinhas, com a Maria José e a Tina. Tínhamos as nossas casinhas no quintal, caiadas de branco, com prateleiras para pôr a loiça. E as mobílias das bonecas, que o meu irmão mais velho nos fazia com as caixas de madeira onde vinha a marmelada.
Brincava aos cowboys com os miúdos da vizinhança e a minha irmã mais nova.
Ou víamos televisão à noite, na primeira televisão que apareceu lá na rua.
Jogávamos ao elástico com o Agostinho (que nunca mais vi...).
Nas férias grandes ia para a aldeia da minha mãe e eram os primos que vinham de França, os banhos na ribeira, os bolinhos feitos no forno de lenha...
Era um tempo feliz!
Dávamos valor às coisas.
E nesse tempo ainda não me faltava ninguém!

Isabel

quarta-feira, maio 13, 2020

2. Bettips



Se eu fosse ainda criança... gostaria de ter uma casinha em miniatura! 
Bettips

1. Agrades



Se eu fosse ainda criança, preocupava-me apenas com o meu brinquedo e não sabia das pandemias e da malvadez dos homens. 
Agrades

quarta-feira, maio 06, 2020

AGENDA PARA MAIO DE 2020

Proposta de Justine
Provavelmente Alegria
Gostaria que os vossos textos fossem acompanhados de fotografia
Dia 14 - Se eu fosse ainda criança

 

O DESAFIO DE HOJE

Proposta de Justine
Provavelmente Alegria
(A vida não está para graças! O peso dos dias dobra-nos, sendo necessário ir inventando forças sabe-se lá onde, cada dia, todos os dias! Pensei então: e se passássemos um mês inteirinho a inventar alegrias? Não seria demais, pois não? E bem poupadinhas, até podia ser que durassem até ao fim do ano. Vamos então todos, durante Maio, à descoberta de alguma alegria!)
Gostaria que os vossos textos fossem acompanhados de fotografia

Dia 7 - As alegrias do meu amanhecer

14. Zambujal



Crónica de uma manhã de Maio… diferente

Saltei da cama ao sol desta canção Maio, maduro Maio, banda sonora para ver doirar as nêsperas, com acompanhamento do coro dos pintassilgos e outra passarada canora. Dou gracias à la vida.
Tudo acorda em ode à alegria, numa maravilhosa 9ª sinfonia.
Mas.
Mas este é o Maio de 2020, o Maio do nosso acantonamento.
Apesar de tudo, alegre o nosso canto, onde maduram nêsperas e cantam pássaros.
Solidários com os que vivem em confinados cantos recantos, e mais ainda com os que nem isso têm.

Zambujal

13. Teresa Silva



O amanhecer raramente dou por ele... mas lá para o meio dia gosto de ir ver e regar a minha "colecção" de sardinheiras. 
Teresa Silva

12. Rocha/Desenhamento



Nascer corresponde a um dos fenómenos mais transcendentes da nossa vida na Terra. Nascer pode corresponder a situações mais profundas no sentido do ser, crescer e usar a razão. O contexto em que se abre a vida pode ser paradisíaco ou deplorável, afundado em lama ou marcando os seres por intempéries e ruínas. Tudo isso marca o ser humano, Mas a nossa alma, vinculada à pessoa e aos valores da concepção da vida, ultrapassa sempre as contingências da realidade, nem sempre explicáveis. Ser. Nós no limiar do ser, alguns anos depois de nascer e no meio de um abismo tremente, é, em si, um modo e abarcar os sentidos das coisas. O ser humano é, em si e desde cedo, um espírito resiliente e criador.

ROCHA DE SOUSA

11. Mónica



As alegrias do meu amanhecer
Gosto do amanhecer, é de manhã que começa o dia, digo eu, gosto de acordar de manhã cedo, gosto da troca de “bom dia”, de um bom pequeno-almoço, de madrugar para começar uma viagem de farnel, gostava de acordar cedo para estudar, gosto de chegar cedo ao trabalho, telefonar aos clientes logo à primeira hora, organizar e planear o dia, a manhã é a parte do dia que mais gosto, cada manhã que começa é um livro em branco de possibilidades, e se possível tomar o segundo pequeno-almoço. Acordar e ver o sol a nascer é um privilégio, é contagiante a beleza do amanhecer. Tirei esta fotografia há alguns anos, o Nascente do Nordeste transmontano, o meu norte intuitivo, não sei porquê, se não visse o sol a nascer diria que ali era o Norte, chegava-me à varanda da cozinha, o meu lugar favorito, o meu refugio, a visão ampla do meu mundo que acabava ali, inconscientemente levantava a perna direita, pousava-a no murete, apoiava o cotovelo no joelho, o queixo na palma da mão e ficava parada, a ver o sol a aparecer vindo por trás dos montes, os gatos aproximavam-se em equilíbrio no murete a fazerem gincana nos varões da varanda, fazia-lhes uma festa sem tirar os olhos do sol, a terra a girar para baixo (ou para a esquerda), lentamente, assim começava mais um dia. Alegria, bom dia!
Mónica