quarta-feira, abril 27, 2022

3. Justine

 

Velhice

E para falar desta última etapa da nossa vida, nada melhor do que a sensibilidade e a lucidez da poesia de Eugénio de Andrade:

Cerco

O corpo começa a consentir,

ceder, abrir fendas

com as chuvas altas,

a mostrar, quase exibir

velhas raízes, rugas, mágoas,

a secura próxima dos galhos;

o corpo, sim, ele que foi afável

e crédulo e solar – tão

indiferente agora às matinais

e despenteadas vozes:

distante e tão cercado

de apagadas águas.

(in Rente ao Dizer, Fundação Eugénio de Andrade/21, pag.54)

Justine

6 comentários:

Mónica disse...

Bonita fotografia

bettips disse...

Sempre destilando ternura, Eugénio, mesmo falando da velhice.

mena maya disse...

Continuamos a viagem ao ritmo das nossas forças, a poesia é uma boa companheira.

Anónimo disse...

Lindíssimo poema
Luisa

M. disse...

Tão bonito este poema. Tão verdadeiro o título, cada palavra tão cheia de sentimento.

Licínia Quitério disse...

Sensível, sensível.