Dois excertos é pouco. Vale a pena lê-lo.

«Nestes dias em que conversavam assim num jardim, não por direito a estarem nele mas por calcularem aproximadamente a ausência de outra pessoa, como se os encontros deles fossem clandestinos como os outros a que ele tantas vezes ia, não faziam amor. Agora, enquanto Hannah continuava, enunciando os pensamentos dele, bem como os seus, no seu modo particular, perceptivo, a consciência que ele tinha do lugar onde estava ganhou uma estranha intensidade. Era físico. Ficou sensível à própria superfície da sua pele, do seu peito e braços nus, bem como através da vista e do olfacto àquilo a que chamavam o ”jardim”, pairando sobre ele e oprimindo-o. A cor de malva, sem sombras, do jacarandá em flor, ectoplásmica, junto ao seu rosto, fetos arbóreos arejando as folhas verdes abertas sobre o tanque forrado de azulejos, com folhas de lírio, a névoa de calor que se evolava da relva cortada. Uma paz que lhe entorpecia os nervos, como um zumbido nos ouvidos, murmurada continuamente por quaisquer aves de caudas cinzentas que se agitavam numa figueira. Quando estava sentado com Hannah, o confuso avanço do tempo fora detido por momentos…»

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«Os pretos estavam habituados à proximidade. Nas filas de espera para os transportes, para as cartas de trabalho, para a distribuição de casas, para todos os papéis timbrados que autorizavam as suas vidas; enlatados dentro dos comboios e autocarros superlotados que os levavam para cá e para lá através da savana, encaixando uma família numa única divisão, eles não conseguem guardar o limite de espaço − uma outra pele, invisível − que os brancos projectam à sua volta, distanciados uns dos outros em tudo excepto na intimidade sexual e com os pais…»

Em A História de Meu Filho, Nadine Gordimer