quinta-feira, maio 21, 2020

12. Rocha/Desenhamento



Passo lateralmente a este «jardim» que se deixa atravessar por linhas de água, lenta e quase limpa reflectindo a luz ambiente e a própria vegetação reflectindo a luz própria da vegetação em redor. Paro. Sinto que o meu espírito se apazigua, um pouco no modo de se interrogar calmo e contemplativo. É uma alegria mansa, algo de dentro, nenhuma mecânica agitada. Fotografo e reinstalo a imagem, estabilidade quase geométrica, cada resolução desse género se pode ligar a um estado de espírito em alegria, de distensão mansa e grata nos modos, mesmo quando se retrata personagens ou desastres principais. 
Tudo parece poder agregar o mesmo critério numa espécie de exemplaridade, embora a percepção do real tenha em conta alguma desconfiança, a existência de dois detritos, papel branco e amarotado em baixo, outro, mais secreto e negro, aparecendo no canto superior do enquadramento da calçada, pois já velho e de ritmo ondular mais leve que se fazia um século atrás. Tudo isto perturba-me (deprime) de ansiedade, perplexo com uma boneca de trapos, rasgada e suja, que aparece lá mais adiante, como se tudo ali tivesse destruído um pequeno universo de brincar entre simulações e perdas.
ROCHA DE SOUSA

6 comentários:

Justine disse...

Sim, o desrespeito pelo ambiente é deprimente, é inibidor da alegria que a natureza nos oferece

mena maya disse...

uma questão de educação

bettips disse...

Uma escrita inquieta, olhares diversos. O lago lembrou-me Monet, tentei ver se havia uma pontezinha ao fundo. O resto, é sinal da estupidez das pessoas comuns: agora nesta pandemia são as máscaras e os lenços simplesmente atirados ao chão. Lembro-me de um slogan: "O seu lixo também suja".

Anónimo disse...

Nada mais deprimente que o lixo
Luisa

Mónica disse...

e as mascaras cirúrgicas que já se veem pelo chão?

Isabel disse...

Também me lembrei de Monet. O jardim é lindo.
O lixo no chão é mesmo uma questão de educação.