Foi a década que me fez voltar às origens, a viver de novo na terra do Convento, sobre o qual escrevi mais tarde, em forma de prefácio ao meu livro DISCO RÍGIDO:
“ …
Ter nascido e crescido à vista e à sombra do Convento de Mafra alguma influência há-de ter na pessoa que sou e no modo como vejo a vida. Eu já sabia muitas coisas sobre a história do colosso, tal como a aprendi na escola, nos velhos, nos livros. Sabia que tinha sido construído por capricho ou vontade de um rei que eu considerava ser da minha terra. Sabia das histórias do fantasma do capitão-sem-cabeça e das ratazanas gigantescas nos esgotos, ameaçando invadir a vila. Sabia chamar "musaninhos" às salas com janelas ovaladas lá no alto. Sabia o que eram escadas de caracol quando subia até à torre para ver um amigo tocar os carrilhões. Sabia histórias dos santos de pedra, com pés enormes para os meus olhos de menina de metro e pouco. Tinha amigos que moravam "lá dentro" e outros que eram “cá de fora". Conhecia cantos escusos que não eram dados a saber a visitantes de ocasião. Ficaria horas a falar do tempo em que eu e o Convento nos entendíamos, como menina e casa grande que lhe escuta os segredos.
…”
Licínia
2 comentários:
Imagino que deve ter sido uma experiência inesquecível.
Inesgotável fonte de histórias!
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