quarta-feira, novembro 25, 2020

9. Mónica

Os anos 2010 parece que foram ontem, às vezes tenho que olhar para a data e acertar-me com a data mentalmente, como se os dígitos não pudessem ser verdadeiros, onde estão o “1” e o “9”? Ainda mal me habituei a substituí-los pelo “2” e pelo “0”. Cada vez mais me parece que a data e os tempos que vivemos são de ficção científica, títulos de um filme ou de um livro sobre o futuro. Hoje o desafio PPP calhou na data de anos do meu filho, espero que aceitem a desculpa porque vou saltar a década do desafio e situar-me em 2020, o meu filho faz hoje 24 anos, fazendo de conta que eu tinha 20 anos quando ele nasceu e que eu não tenho uma filha de 37 anos, então já tenho mesmo mais de quarenta anos, não tenho como fugir ou fingir que não estou a ficar velha, “não pareces mas és”, como ele diz. A memória do dia em que ele nasceu parece que já não pode ser minha, mas foi ontem, o dia decisivo depois de idas diárias ao hospital até ao prazo máximo em que se tornou obrigatória a cesariana, para meu grande alívio, quando acordo da anestesia, em posição lateral, vejo mesmo ao nível dos meus olhos os olhos bem abertos e acusativos de um bebé, parece-me que é esta a expressão que melhor os definem, fiquei admirada com a expressão viva e com carater, acabado de nascer há poucos minutos, à espera que eu acordasse, “então mãe olha para mim” (ó pa mim), “dá-me de comer” (tenho com fome), “dá-me mimos” (tenho zero mimos), a sequência que inventei para anunciar sua chegada e primeiros anos de vida, até algures na adolescência quando ele se meteu na sua concha, no seu mundo melómano, e dessa sequência já só lhe resta a frase “o que é que há para comer?” depois de ter almoçado ou jantado, não sei onde é que o fininho mete tanta comida! Os anos 2010, 2020, 2030, etc. são dele, das memórias dele e do seu futuro. Ele e os da geração dele saberão vivê-los com a intensidade dos bons e maus momentos, com ou sem pandemia, com a esperança, a vontade, a força com que nós vivemos no “nosso” tempo.

Mónica

5 comentários:

Licínia Quitério disse...

Bela história assim contada. Que o Menino viva muito e bem e tu o vás vendo caminhar.

M. disse...

Uma ternura a maneira como falas do teu filho, sente-se o teu amor por ele. E a fotografia é bem representativa do texto.

Justine disse...

Belíssimo texto, Mónica!Enorme e comovente compreensão de mãe...ah este nosso amor incondicional!

Anónimo disse...

Bonito texto.

Interessante escultura. Quem é o autor e onde está?

Teresa

Anónimo disse...

A escultura está num pequeno jardim perto da estação de metro "casa do povo" em corroios, não encontro o autor