Setembro 2001, acabadinha de regressar de uma década açoriana. Vida nova, vida incerta. Não me importei: vim! Achei que 10 anos tinham sido suficientes.
Desalfandegar, destralhar contentor, carro, malas, sacos, caixotes, livros, plantas da macaronésia, botes baleeiros, tudo, tudo veio comigo. São memórias, eram vivências. Só as baleias ficaram. O cão também veio. Chamava-se Pico, o meu cão. Vomitou no desembarque. Já era lindo e branco, mas ainda mais branco ficou. Branco como a neve que cobre o Piquinho, nos Invernos da Atlântida.
Andei eu nestes afazeres durante semanas e meses e anos. Ainda hoje arrumo a vida, num misto de saudade, de energia nova e de desalfandegamento.
Dia 11 daquele mês decidi desembrulhar os quadros. Comecei por um grande e pesado que adorava. A preto e branco, uma foto das Torres Gémeas nos idos anos 70. Tinha-a trazido de lá, uns anos antes. Era uma foto linda, quase pintura, mística, antiga, amarelecida pelo tempo, enevoada, e eu gostava dela. Decidi pendurá-la. Ao mesmo tempo, ligo a televisão e continuo entretida com as minhas tralhas e ouvindo a voz do jornalista, vaga, muito ao longe, sem lhe dar real importância.
No momento em que me decido onde o pendurar, olho para o écran e vejo as Torres Gémeas a implodirem. Literalmente.
Nesse momento, o quadro escorregou-me das mãos e partiu-se.
Margarida
5 comentários:
Margarida, apesar das várias tentativas que fiz, não consegui colocar as fotografias lado a lado, como me tinhas pedido, isto foi o resultado mais parecido com a tua ideia, penso eu. Lamento.
que pena, não podes pôr nova moldura na fotografia das torres gémeas? acho graça ao que contas sobre a tua década 2000
M: está óptimo, ñ te preocupes, obrgd. Mónica: a minha década 2000 foi muito mais do que isto, acredita! Isto foi "apenas" 1 episódio
Margarida, revi-me neste teu episódio, também eu regressei de armas e bagagens, o contentor chegou uns dias depois, com os meus 3 filhos mais novos de uma estadia de 6 anos em Maryland nesse mesmo ano mas no fim de Junho. Tinha estado pela última vez em N.Y.em Maio, com a minha cunhada belga que veio de Bruxelas em visita e claro visitámos as Torres.
Foi um grande choque para todos nós, ao ligarmos a TV. Pensámos que era um filme, levou uns minutos até realizarmos que era verdade.
Um excelente texto sobre a tua história pessoal e sobre a história de nós todos. Uma festinha especial para o Pico branco, lindo, um olhar também especial para o outro Pico, negro e de chapéu!
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