O meu avô Manuel, pai da minha mãe, era um contador de histórias.
Viviam em Oeiras.
Era casado com a minha “avó rica”.
Sentávamo-nos ao seu colo, os 11 “ao molho e fé em Deus”, cachopos, no jardim.
Era um bom falador e um homem muito empático. Ao contrário da mulher, a vóvó Clarinha, rígida e prepotente como só nós sabemos.
Ele era um pachola, um paciente, estava sempre tudo bem.
Com ele aprendemos a jogar
damas e a contar lendas.
Fez-se a pulso, pobre de origem, trabalhou muito.
Criou a sua indústria de lanifícios, de seu nome SERIP, o reverso de PIRES, o seu apelido.
Ninguém o chamava Manuel; todos o chamavam Pires, até a esposa.
A minha avó Conceição, pobre de nascença e nunca muito rica em vida, era a mãe do meu pai.
Excelente cozinheira, não conheço melhor, bondosa como ninguém. Os melhores peixinhos-da-horta são dela.
Não sabia ler nem escrever, vivia em Vendas Novas, para onde queríamos sempre ir de férias, em detrimento da “vóvó rica de Oeiras”.
Guerreávamos uns com os outros, todos queríamos o ar livre, as galinhas e os coelhos, as couves, as laranjas e o tanque refrescante.
Nenhum de nós, netos, queria ir p/ a outra avó, onde éramos obrigados a rezar, a pedir permissão para comer queijo e a pedir licença para sair da mesa.
Era uma seca.
Margarida
6 comentários:
Assim, sem rodriguinhos, uma história bem contada.
Histórias deliciosas e muito bem contadas
luisa
gostei das histórias, a de Vendas Novas já conhecia um bocadinho, quando lá passo lembro-me de ti e da casa dos teus avós
Memórias do passado descritas com à-vontade.
Estórias interessantes, contadas como se estivéssemos em conversa.
Eram bonitos os Avós que mostraste. Muito interessante o contraste entre as duas casas e a forma como os primos reagiam.
Teresa
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