sexta-feira, janeiro 16, 2009

Um texto belíssimo de um livro que conversa connosco

«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.»

Lisboa Livro de Bordo, José Cardoso Pires, Publicações Dom Quixote, Expo 98

10 comentários:

Zé-Viajante disse...

Olho a praça, o rio, de novo as colunas e sinto tudo isto. Mas não sendo escritor, muito menos escritor brilhante com JCP, resta-me fazer algumas fotos. Belas, não pelas fotos mas pelo local.

Justine disse...

Apetece percorrer Lisboa, ao ritmo das palavras apaixonadas de JCP

bettips disse...

Sinto, quando começo a vê-lo ida do Norte, que a água leva essa luz azul que recolheu nos montes, no centro duma península quase seca.
Uma bela declaração de amor-lisboa e a sua margem mágica.
Bj

Licínia Quitério disse...

É de facto um livro fascinante. Poético, direi. E o que mais me impressiona é o despojamento da escrita de Cardoso Pires nesta altura adiantada da sua vida. A total ausência de artifícios, de bizantinices. Só um grande escritor consegue esta ingenuidade/genuinidade.

Fizeste-me repegar no livro.

Um beijinho.

Anónimo disse...

Li-o alguns anos atrás e foi om recordar esta passagem aqui. O JCP é dos tais que também tenho histórias para contar!
Bjs
TD

tulipa disse...

TENHO ESTADO AUSENTE...
Os problemas com a m/sobrinha têm sido a causa do meu afastamento.
Ela tem estado muito mal, no início da semana teve uma paragem cardíaca e teve que ser operada, com apenas 26 anos!!!
Agora está um autêntico vegetal, ligada a tudo que é máquina...

Mas, hoje decidi visitar alguns dos blogues amigos e cá estou.

Aquando da minha viagem à Índia (estava lá há 2 meses atrás) houve tempo para aventuras, turismo e Solidariedade, como podes constactar no meu ultimo post.

Bom fim de semana.

Anónimo disse...

Tenho o prazer de comunicar que já aprendi a escrever nos comentários assim. Como sabem a minha casa é aqui.

Estou muito orgulhosa de mim.

Anónimo disse...

Também tenho este livro que se lê de um fôlogo, pois mais não são prcisas que as palavras de cardoso Pires para nos tansportarmos na Lisboa qur todos amamos, mas malguns teimam nmem destruir. É sempre bo reler nem que seja um pequeno trecho. Obrigada, amiga.

Anónimo disse...

OBRIGADA!
Quem não tem vergonha de amar esta cidade sente-se ligada ás palavras e afectos de JCP.
É o meu caso.
Gosto de vagear por ela.
Gosto do cheiros, das cores, das misturas, naturais, de várias culturas, dos defeitos...eu sei lá!

mena maya disse...

Lindo!!!!
Nao conheço o livro mas já fica na minha lista!

Fizeste-me ainda mais saudades...

Beijinho