sábado, dezembro 28, 2019
quinta-feira, dezembro 26, 2019
AGENDA PARA JANEIRO DE 2020
Proposta
de Zambujal
Dia
2 - Ao
jeito de cartilha: Proponho-vos
que usemos a sílaba “mor” para
formar as nossas palavras.
O
foco tem de estar todo, e apenas, na ligação entre a palavra que
escolhermos para a sílaba proposta e a fotografia que a expressará,
quer se trate de um objecto ou de um conceito.
Dia
9 - Reticências
com
a frase “
Já cá faltava”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
Dia
16
- Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia de Zambujal.
Dia
23
- Jornal
de Parede
Dia
30 -
Fotografando
as palavras de outros sobre
(…)
pobre
mulher,
só
conseguia executar uma tarefa se a descrevesse enquanto a praticava,
se lavava a roupa dizia agora estou enxaguando primeiro, botando
sabão e esfregando rugosa na pedra, agora molho outra vez, até a
água sair limpa, agora desamarroto, torço e ponho secando no varão,
primeiro uma mola, depois esta e mais dez para o vento não puxar, o
vento estica, enrodilha, embaraça, estorce, arranca e rouba a roupa,
mas não a quer para ele, é maldade, só a revoluteia no ar, para a
jogar fora mais adiante, surripia sem proveito, o vento é só para
irritar a gente, e corria atrás dos trapos, e dizia agora estou
pondo um pé à frente e tudo o que lhe vinha à cabeça. (…)
O
Gesto Que Fazemos para Proteger a Cabeça,
Ana Margarida de Carvalho
O DESAFIO DE HOJE
Proposta
de Justine
NATAL,
um
lugar nas nossas vidas
26
de Dezembro – E para o ano... há mais Natal? (texto,
ou foto, ou ambos - opcional )
7. Zambujal
Decerto
no dia 25 de Dezembro será
De
certo – a haver…como haverá – será 6ª feira
porque 2020 é
bisexto[i]
Decerto
haverá palavras de esperança
e sopas de conforto
para os sem abrigo
De
certo já não o viverão muitos
dos que vivos estão
neste Natal de hoje
De
certo haverá crianças a nascer nesse dia
Decerto
algumas se chamarão Jesus.
Zambujal
(25.12.2019)
[i]
- vê-se em agenda amorosamente oferta como prenda de aniversário
[i]
- dos 30 países seleccionados na agenda (por que critério?), em 2 o
dia não é feriado (Eslováquia e Turquia)
6. Rocha/Desenhamento
O
mercado de trabalho está em mudança de acordo com as pressões
técnicas, culturais e sociais. Está em alteração e isso implica
novos caminhos nas ideias e informação de sentidos, além de novas
mitologias: o Natal, por exemplo, hoje vivido mo caminho de um ser
presenteiro (Pai Natal) que despeja sobre o mundo e as crianças um
céu de coisas aliciantes, por vezes quase perto da encomenda feita
em sonhos de infância e jogos ou partidas.
O
futuro parece travar esse tipo de devaneios e fazer evoluir as
curiosidades para saudações com mais severo conteúdo. No entanto,
a crise climática, a par das convulsões entre diversos grupos
humanos, no quadro de milhares de diferenças e diversas intenções
de modo e ser, surgem mudanças quanto a direito de cada um e todos,
na vida e nos seus valores.
Haverá
pressupostos mais vastos quanto à antropologia, numa perspectiva de
amplo enlace entre povos, almas e culturas.
A
inclusão contra a exclusão - no futuro?
Rocha
de Sousa
4. M.
Se
para o ano haverá mais Natal não sei, essa é uma das perguntas que
todos nós fazemos em relação ao futuro e para a qual não temos
resposta segura, por causa da finitude humana versus permanência ou
renovação da vida. Uma coisa sabemos de certeza e foi David
Mourão-Ferreira que a deixou escrita com palavras muito belas no
início da sua
Ladainha dos Póstumos Natais:
«Há-de vir um Natal e será o primeiro/em que se veja à mesa o meu
lugar vazio». Mas, haja ou não mais Natal para o ano, a Natureza
enfeitar-se-á como de costume e confortará quem a sentir como
fazendo parte de si.
M
3. Licínia
Estou
para aqui a pensar em certos natais que inventei para que, em anos
brutos da implantação do consumismo, eu pudesse apresentar alguma
coisa que dissesse que as lojas não vendem o melhor que temos e pode
a outros servir. Natais em que fui pai-natal, mãe-natal,
filha-do-pai-natal e até rena, quando não havia ainda chifres à
venda, mas foram feitos cá em casa. Nesse tempo havia crianças que
eram o meu público mais atento. Nesse tempo eu acreditava que a
febre das compras havia de se extinguir, que as crianças haviam de
crescer para um mundo menos fútil, mais útil, mais amável. Foram
esses natais que hoje recordo, e há um doce-amargo nesta lembrança
de mim, dos que já não estão, das minhas ilusões que afinal
continuarei a alimentar, em qualquer Natal, esteja eu onde
estiver.
Licínia
Licínia
2. Justine
Se
para o ano houver crianças que mantenham a sua ingenuidade e
continuem a fascinar-se com as iluminações das ruas, sem
apreenderem o seu sentido último; se para o ano houver famílias que
continuem a escolher esta época para encontros e reencontros entre
amigos e parentes; se para o ano ainda houver gente tolerante e
aberta que continue a achar encantadoras as recriações de pequenas
aldeias a que chamamos presépios, com musgo a desenhar caminhos e um
berço de palhas com um bebé deitado; se para o ano as ruas e
montras forem de novo palco e chamariz de consumos, para onde as
gentes são empurradas quase compulsivamente; se para o ano ainda
houver quem acredite que nesta época se festeja o nascimento de um
menino que alguns consideram filho de deus e outros um profeta
nascido na Judeia; se tudo isto acontecer…então sim, para o ano há
mais Natal!
Justine
(fotografia de uma ilustração de Alex Gozblau, no artigo O Burro do Presépio e todos os outros, de José Tolentino Mendonça, Revista E de 9/11/2019)
sexta-feira, dezembro 20, 2019
DA BETTIPS PARA A FAMÍLIA PPP
DA AGRADES PARA A FAMÍLIA PPP
quinta-feira, dezembro 19, 2019
AGENDA PARA DEZEMBRO DE 2019
Proposta
de Justine
NATAL,
um
lugar nas nossas vidas
26
de Dezembro – E para o ano... há mais Natal? (texto,
ou foto, ou ambos - opcional )
O DESAFIO DE HOJE
Proposta
de Justine
NATAL,
um
lugar nas nossas vidas
19
de Dezembro – A literatura e o Natal
(só texto/só foto ou ambos - opcional)
11. Zambujal
O
Germano diz que já lá tem o bolo-rei – grita o pai, pousando o
telefone no descanso.
Está
bem – respondeu a mãe, da cozinha, onde, ajudada por Eurídice,
ultima os preparativos para a ceia.
Frita,
agora, as últimas rabanadas que junta às primeiras numa travessa
oval, depois polvilha-as com uma mistura de açúcar e canela:
Pronto, os doces estão, só falta o bolo-rei – faz uma pausa,
passa as mãos por água na torneira do lava-louça e enxuga-as na
ponta do avental, deita um olhar ao relógio de parede suspenso por
cima do frigorífico, e acrescenta: Já passa das sete, o melhor é
ires buscá-lo não vá o senhor Germano fechar a pastelaria, com ele
nunca se sabe…
Eurídice
sorri e acena a cabeça. (…)
(Começo
de Aquela
Noite de Natal,
de José Casanova, editora Caminho)
9. Rocha/Desenhamento
Ao
lembrar-me de certa obra de Charles Dickens, UM CONTO DE NATAL, onde
este grande escritor leva à abordagem de Ebenezer Scrooger, avarento
por natureza, mostrando-o visitado por três notáveis personalidades
que o vão convidar a reflectir sobre a..generosidade.
Então
ocorreu-me abrir à sorte o último livro que publiquei O MESSIAS
página 13, número bizarro. Lá, um tal José diz a certa altura o
seguinte:
«Como dono da minha humanidade, e ao ouvir tais acusações, nunca poderei sentir-me magoado, tendo pena de mim, porque se algum aspecto relevar da minha militância verdadeira pelas causas do Homem, o problema não residirá em nenhum retrato, em nenhuma vaidade autoral, ainda que possa desvendar um pouco do meu desejo, sobretudo na multiplicação do ver sensato e no desdobramento do sentido das palavras. As pessoas não estão nos retratos. Eu nunca vi o Outro que não foi Ninguém.»
«Como dono da minha humanidade, e ao ouvir tais acusações, nunca poderei sentir-me magoado, tendo pena de mim, porque se algum aspecto relevar da minha militância verdadeira pelas causas do Homem, o problema não residirá em nenhum retrato, em nenhuma vaidade autoral, ainda que possa desvendar um pouco do meu desejo, sobretudo na multiplicação do ver sensato e no desdobramento do sentido das palavras. As pessoas não estão nos retratos. Eu nunca vi o Outro que não foi Ninguém.»
Rocha
de Sousa
Imagem (fragmento
da capa do livro)
8. Mónica
"Chegara
ali no dia de Natal e constatara, com uma mistura de pasmo e
comiseração, que o comandante da corveta, Álvaro Andrea, tinha
convertido o aquartelamento num lugar de celebração cristã. Chapas
de zinco tinham sido usadas para servir de tampos de mesa e troncos
foram convertidos em assentos. Cartucheiras vazias e fitas de
metralhadoras enfeitavam uma árvore no centro do recinto.
Aquela fantasia natalícia surgia patética aos olhos do capitão de cavalaria. E revelava não uma particular devoção cristã mas uma perigosa fragilidade. Se os chefes militares fossem pelo caminho da encenação, cedo os soldados pediriam mentiras maiores. Para acertarem naquele fingimento de Natal faltava-lhes o frio, a neve e os cheiros da sua terra. Em contrapartida sobravam os mosquitos, as febres e os odores fétidos do pântano."
Aquela fantasia natalícia surgia patética aos olhos do capitão de cavalaria. E revelava não uma particular devoção cristã mas uma perigosa fragilidade. Se os chefes militares fossem pelo caminho da encenação, cedo os soldados pediriam mentiras maiores. Para acertarem naquele fingimento de Natal faltava-lhes o frio, a neve e os cheiros da sua terra. Em contrapartida sobravam os mosquitos, as febres e os odores fétidos do pântano."
Volume
III "O bebedor de horizontes" (pág. 34 e 35) da trilogia
"As areias do Imperador" de Mia Couto, Fundação Fernando
Leite Couto.
6. Margarida
5. M.
TOADA
DE NATAL
Um
pássaro a cantar na laguna estagnada
Frutos
no capitel de uma coluna exangue
É
assim que o Natal se nos pousa na alma
É
assim que o Natal tem um gosto a laranja
Do
gira-discos sobe um concerto de Bach
Que
importa que lá fora o vento se levante
É
assim que o Natal habita a nossa casa
É
assim que o Natal desperta a nossa infância
Mas penso no que seja a noite de hoje em Praga
Vais
a dizer Jesus e dizes Vietname
É
assim que o Natal nos dilacera a carne
É
assim que o Natal nos parece um alfange
E ficamos os dois de mãos entrelaçadas
E
filtramos a luz e a sombra deste instante
É
assim que o Natal nos vai enchendo a taça
É
assim que o Natal nos aperta a garganta
1968
David
Mourão-Ferreira, Obra
Poética
1948-1988 (Cancioneiro
de Natal 1960-1987, páginas 226 e 227),
Editorial Presença, Julho de 1996
3. Licínia
NATAL,
E NÃO DEZEMBRO
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num
presídio,
no prédio que amanhã for
demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer
sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma
nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988 (Cancioneiro de Natal 1960-1987, páginas 222 e 223), Editorial Presença, Julho de 1996
2. Justine
Dia
de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É
dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
De
falar e de ouvir com mavioso tom,
De
abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
De
lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria
De
perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
De
meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É
só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
Como
se de anjos fosse,
Numa
toada doce,
De
violas e banjos,
Entoa
gravemente um hino ao Criador.
E
mal se extinguem os clamores plangentes,
A
voz do locutor
Anuncia
o melhor dos detergentes.
…
Nas
lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
Com
subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
Cintilam,
sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
As
belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
…
A
Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se
uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E
a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
E
compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado
comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela
véspera santa
A
sua comoção é tanta, tanta, tanta,
Que
nem dorme serena.
Cada menino
Abre
um olhinho
Na
noite incerta
Para
ver se a aurora
Já
está desperta.
De
manhãzinha
Salta
da cama,
Corre
à cozinha
Mesmo
em pijama.
Ah!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Na branda macieza
Da
matutina luz
Aguarda-o
a surpresa
Do
menino Jesus.
Jesus,
O
doce Jesus,
O
mesmo que nasceu na manjedoura,
Veio
pôr no sapatinho
Do
Pedrinho
Uma
metralhadora.
Que alegria
Reinou
naquela casa em todo o santo dia!
O
Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
Fuzilava
tudo com devastadoras rajadas
E
obrigava as criadas
A
caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá
Já
está!
E
fazia-as erguer para de novo matá-las.
E
até mesmo a mamã e o sisudo papá
Fingiam
Que
caiam
Crivados
de balas.
Dia de Confraternização Universal
Dia
de Amor, de Paz, de Felicidade,
De
Sonhos e Venturas.
É
Dia de Natal.
Paz
na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória
a Deus nas Alturas.
(excerto do poema Dia de Natal de António Gedeão)
(fotografia de uma escultura numa exposição no MAAT)
segunda-feira, dezembro 16, 2019
A PEDIDO DA JUSTINE
Olá Manuela
Acabei
de ler as histórias de Natal que cada um/uma de nós achou por bem, e
gostei muito, é um mosaico de sensibilidades bonitas. Fiz um comentário
colectivo, que deixei no texto que postaste sobre a questão dos
sublinhados. Achas que podes publicá-lo de modo que todos o leiam? O
comentário é o seguinte:
Cada
um de vós , com a enorme sensibilidade que vos caracteriza , contou
histórias vividas ou inventadas, não interessa. Apenas interessa que são
histórias lindas, cheias de humanidade, ternura e ensinamentos. Eu
também gosto muito do que conto na minha história 😊
Somos um grupo fantástico, não é verdade?
Boas Festas!
Somos um grupo fantástico, não é verdade?
Boas Festas!
Beijinhos
Zé
quinta-feira, dezembro 12, 2019
AGENDA PARA DEZEMBRO DE 2019
Proposta
de Justine
NATAL,
um
lugar nas nossas vidas
19
de Dezembro – A literatura e o Natal
(só texto/só foto ou ambos - opcional)
O DESAFIO DE HOJE
Proposta
de Justine
NATAL,
um
lugar nas nossas vidas
12
de Dezembro – A história de Natal que eu contaria (texto
e foto)
NOTA:
NOTA:
Peço-vos desculpa por hoje alguns textos terem ficado meios loucos, com frases assinaladas a branco sem que eu as desejasse assim, mas não consegui modificá-las. Tentei várias vezes, desliguei o computador, voltei a ligá-lo, experimentei voltar a publicar os tais textos, aquelas frases rabinas continuaram a desobedecer-me... Desisti. Mas se alguém souber dizer-me como remediar este contratempo, por favor elucide-me.
M
11. Zambujal
A HISTÓRIA DE NATAL QUE EU CONTARIA
Era uma vez…
Era uma vez uma criança. Que nasceu ao calor da lareira, entre duas idas da mãe à vinha. Nasceu no mesmo ano, só uns dias depois, de outra criança que nascera a 21 de Dezembro, em Lisboa.
Cresceram a par. Pelos verões e natais, nas vindas do menino à aldeia, nas brincadeiras de pião e bola de borracha que trazia da cidade e o cachopo chutava com os pés descalços; pelas festas da padroeira, que eram depois das vindimas, beberam juntos os primeiros copos de água-pé; os olhos dos dois rapazes confundiram-se nos seios das moças que cresciam debaixo das blusas, antes mesmo das mães cuidarem de as alargar. Muito se riram os dois e tanto se encontraram nas suas diferenças.
Um dia, pelo verão, o mancebo da aldeia contou ao da cidade que não iria à guerra, que queria outra vida. No natal desse ano, o jovem que chegava de Lisboa teve a notícia que o fez chorar (então e hoje): balas da Guardia Civil tinham acabado com a vida do amigo, que tanto queria ir começar para lá dos Pirinéus. Já tão perto!
Cresceram a par. Pelos verões e natais, nas vindas do menino à aldeia, nas brincadeiras de pião e bola de borracha que trazia da cidade e o cachopo chutava com os pés descalços; pelas festas da padroeira, que eram depois das vindimas, beberam juntos os primeiros copos de água-pé; os olhos dos dois rapazes confundiram-se nos seios das moças que cresciam debaixo das blusas, antes mesmo das mães cuidarem de as alargar. Muito se riram os dois e tanto se encontraram nas suas diferenças.
Um dia, pelo verão, o mancebo da aldeia contou ao da cidade que não iria à guerra, que queria outra vida. No natal desse ano, o jovem que chegava de Lisboa teve a notícia que o fez chorar (então e hoje): balas da Guardia Civil tinham acabado com a vida do amigo, que tanto queria ir começar para lá dos Pirinéus. Já tão perto!
Zambujal
10. Teresa Silva
9. Rocha/Desenhamento
Fui
protagonista de várias histórias (fictícias) de Natal. Era eu
criança. Meu irmão, mais velho, esgueirou-se (no dia de Natal e
respectivas prendas) para o quarto dos nossos pais. Disse, com voz
tendencial: «Bom dia então não é esta noite que o Pai Natal passa
por cá?» Os meus pais entreolharam-se e responderam, olhando de
esguelha para a janela. Meu irmão sabia teatrar estas coisas:
voltou-se para a porta que abria caminho directo ao corredor, dizendo
já fora de campo: «Dizem que Ele está a oferecer canetas
Sheaffers.»
Fiquei verde;
afinal
os filhos mais velhos faziam o pedido ao verdadeiro pai Natal como
quem sabe, pelos outros, a verdade da mentira
em forma de caneta de luxo. O,,,meu
irmão recebeu a tal caneta e eu uma caixinha de aguarelas.
Rocha
de Sousa
8. Mónica
No primeiro ano da
escola primária do meu filho, antes do Natal a professora chamou-me
à escola, pensei que ía ouvir um sermão porque o meu filho não
sabia quem era o menino Jesus e família (dizia ele em casa: na
escola andam para lá a contar uma história de uma menino pobrezinho
que nasceu no meio das vacas e que faz anos…), consequência de ser
o único que não frequentava as aulas de religião e moral, ou pior,
ter repetido na escola algum comentário jocoso sobre religião
ouvido em casa, etc. Preparei-me para ser confrontada com o facto de
não termos religião e estarmos a educar a criança na heresia,
qualquer coisa desta natureza. Encaro a professora e ela com um ar
muito triste diz-me: aconteceu uma situação desagradável para o
Eduardo que tenho que lhe contar, tenho muita pena mas houve uma
"discussão" entre os miúdos sobre o Pai Natal e tive que
dizer ao Eduardo a verdade, que não existe o Pai Natal. A professora
contou-me que os miúdos começaram a falar do Pai Natal, pedir as
prendas ao Pai Natal, quem ainda acredita, quem não acredita,
aquelas coisas que os pais dizem se te portares bem o Pai Natal dá-te
uma prenda, mas é tudo mentira, são os pais que compram as prendas,
até que o meu filho diz que está tudo muito certo mas a verdade é
que o Pai Natal todos os anos vai a minha casa, tenho fotografias e
tudo! Coitadinho! Bateu-se pela sua convicção, nada como
fotografias para provar que existe mesmo! Disse à professora que
ficasse tranquila, algum dia tinha que acontecer. Tive pena que fosse
desta forma, imaginei-o sozinho contra todos a defender um facto que
nós, os pais, a irmã, o tio e as pessoas que convencemos a
vestirem-se de Pai Natal, fomos alimentando durante 5 anos. A tática
consistia em alguém que saía da sala vestia-se de Pai Natal tocava
à porta, nós dizíamos vem aí o Pai Natal, entrava cumprimentava
dava-lhe uma prenda tirávamos uma fotografia e ía embora. O miúdo
nem tinha tempo de viver a situação, era tudo muito rápido e ele
ficava em transe. Recebia uma prenda do Pai Natal, a prenda, e não
queria mais nenhuma. Desde esse ano, o primeiro ano na escola
primária, que não houve mais Pai Natal. E o Natal nunca mais teve
“aquela” magia.
Mónica
7. Mena M.
Num
dos dias do Advento, depois de ter ido buscar a minha filha Raquel à
Escola Alemã, em Maryland, aproveitei o facto de já estar na rua, a
nossa casa ficava numa zona apenas residencial com as lojas mais
próximas a uns 10Km, para ir ao Montgomery Mall comprar uma meia
dúzia de coisas que me faziam falta, entre elas material escolar.
Estando numa papelaria grande aproveitei e comprei também mais 2
rolos de um papel de embrulho de Natal, que achei muito bonito.
Passaram-se
os dias e eis que chega a véspera do Natal.
Finalmente
chegou a hora de montar pinheiro, que esteve em tempo de espera uns
dias na garagem, e decorá-lo não só com as bolas vermelhas, mas
também com os enfeites que as crianças fizeram na escola.
As
horas pareciam que nunca mais passavam, os meus filhos foram com o
pai dar um pequeno passeio e eu fui pôr as prendas à volta da
árvore.
Jantámos
por volta das 6 e meia da tarde e depois todos correram para a sala
para abrir os presentes.
De
repente a Raquel, que naquela altura ainda acreditava, ou talvez
preferisse fazer de conta de que, disse muito entusiasmada:
-
Olha mãe, o Pai Natal comprou o mesmo papel que tu!
Eu
prontamente respondi: - Não me admiro nada, era o mais bonito!
Mena
6. Margarida
5. M.
AS
CONSULTAS DE QUINTA-FEIRA
Havia
anos que os vinte quilómetros de estrada secundária o levavam todas
as semanas às consultas de quinta-feira. Grande parte dos seus
doentes, por quem sentia um afecto muito especial, vinha do tempo da
“periferia”, quando ele e outros colegas ali tinham sido
colocados, ao abrigo da política de saúde do governo da altura.
Para um rapaz novo, praticamente acabado de sair da faculdade, tinha
sido difícil trocar os sonhos de uma carreira médica na capital
pela pacatez de um posto de saúde algures numa terra longínqua. O
trabalho depressa o fizera compreender a utilidade daquela
experiência e o convívio com os colegas trouxera-lhe amizades para
a vida inteira. Mais tarde, terminada a “periferia”, mantivera as
consultas às quintas-feiras. “Ao menos uma vez por semana vou
visitar a família!...”, dizia por graça.
Olha
quem ali está, comentou para consigo. O Ti Manel e as suas vinhas!
Há que meses não o via. Ainda bem, era sinal de saúde.
Aparecera-lhe no consultório por alturas do último Natal, não que
estivesse doente, o homem era rijo: “Venho desejar-lhe Boas Festas
e oferecer-lhe duas garrafinhas de vinho para o Senhor Doutor beber
com a sua senhora.” Buzinou e acenou-lhe através da janela.
-
Bom dia Nelson, como vai? - disse, ao passar junto do porteiro do
Centro de Saúde - Hoje há muita gente para mim?
-
Bom dia Doutor Brandão! Alguma... Começa o inverno, aparecem os
espirros...
-
O pior é se não tenho lenços suficientes para os espirros da
alma...
M
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