quinta-feira, dezembro 26, 2019

3. Licínia

Estou para aqui a pensar em certos natais que inventei para que, em anos brutos da implantação do consumismo, eu pudesse apresentar alguma coisa que dissesse que as lojas não vendem o melhor que temos e pode a outros servir. Natais em que fui pai-natal, mãe-natal, filha-do-pai-natal e até rena, quando não havia ainda chifres à venda, mas foram feitos cá em casa. Nesse tempo havia crianças que eram o meu público mais atento. Nesse tempo eu acreditava que a febre das compras havia de se extinguir, que as crianças haviam de crescer para um mundo menos fútil, mais útil, mais amável. Foram esses natais que hoje recordo, e há um doce-amargo nesta lembrança de mim, dos que já não estão, das minhas ilusões que afinal continuarei a alimentar, em qualquer Natal, esteja eu onde estiver.
 

Licínia

1 comentário:

Justine disse...

E que nos espera quando deixarmos de ter ilusões???