TOADA
DE NATAL
Um
pássaro a cantar na laguna estagnada
Frutos
no capitel de uma coluna exangue
É
assim que o Natal se nos pousa na alma
É
assim que o Natal tem um gosto a laranja
Do
gira-discos sobe um concerto de Bach
Que
importa que lá fora o vento se levante
É
assim que o Natal habita a nossa casa
É
assim que o Natal desperta a nossa infância
Mas penso no que seja a noite de hoje em Praga
Vais
a dizer Jesus e dizes Vietname
É
assim que o Natal nos dilacera a carne
É
assim que o Natal nos parece um alfange
E ficamos os dois de mãos entrelaçadas
E
filtramos a luz e a sombra deste instante
É
assim que o Natal nos vai enchendo a taça
É
assim que o Natal nos aperta a garganta
1968
David
Mourão-Ferreira, Obra
Poética
1948-1988 (Cancioneiro
de Natal 1960-1987, páginas 226 e 227),
Editorial Presença, Julho de 1996
3 comentários:
Belo, este poema de "mãos entrelaçadas"...
muito bonito
Lindíssima foto.
Teresa
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