NATAL,
E NÃO DEZEMBRO
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num
presídio,
no prédio que amanhã for
demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer
sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma
nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988 (Cancioneiro de Natal 1960-1987, páginas 222 e 223), Editorial Presença, Julho de 1996
4 comentários:
Pungente e tão belo. Grande poeta, o D M-F
(mesmo gostos poéticos que a M.?)
Eu tinha pensado no mesmo poema mas, depois de receber a proposta da Licínia, preferi publicar outro de David Mourão-Ferreira para proporcionar mais variedade.
rastro?
DMF está em grande
já fui ao dicionário :D
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