"Chegara
ali no dia de Natal e constatara, com uma mistura de pasmo e
comiseração, que o comandante da corveta, Álvaro Andrea, tinha
convertido o aquartelamento num lugar de celebração cristã. Chapas
de zinco tinham sido usadas para servir de tampos de mesa e troncos
foram convertidos em assentos. Cartucheiras vazias e fitas de
metralhadoras enfeitavam uma árvore no centro do recinto.
Aquela fantasia natalícia surgia patética aos olhos do capitão de cavalaria. E revelava não uma particular devoção cristã mas uma perigosa fragilidade. Se os chefes militares fossem pelo caminho da encenação, cedo os soldados pediriam mentiras maiores. Para acertarem naquele fingimento de Natal faltava-lhes o frio, a neve e os cheiros da sua terra. Em contrapartida sobravam os mosquitos, as febres e os odores fétidos do pântano."
Aquela fantasia natalícia surgia patética aos olhos do capitão de cavalaria. E revelava não uma particular devoção cristã mas uma perigosa fragilidade. Se os chefes militares fossem pelo caminho da encenação, cedo os soldados pediriam mentiras maiores. Para acertarem naquele fingimento de Natal faltava-lhes o frio, a neve e os cheiros da sua terra. Em contrapartida sobravam os mosquitos, as febres e os odores fétidos do pântano."
Volume
III "O bebedor de horizontes" (pág. 34 e 35) da trilogia
"As areias do Imperador" de Mia Couto, Fundação Fernando
Leite Couto.
2 comentários:
Uma delícia de passagem! Uma (mais uma)obra magnífica de Mia Couto, a trilogia "As areias do Imperador", onde mostra o colonialismo por um outro prisma, diferente do habitual
Um livro que apreciei. O outro lado do colonialismo. Imperativo conhecê-lo.
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