No primeiro ano da
escola primária do meu filho, antes do Natal a professora chamou-me
à escola, pensei que ía ouvir um sermão porque o meu filho não
sabia quem era o menino Jesus e família (dizia ele em casa: na
escola andam para lá a contar uma história de uma menino pobrezinho
que nasceu no meio das vacas e que faz anos…), consequência de ser
o único que não frequentava as aulas de religião e moral, ou pior,
ter repetido na escola algum comentário jocoso sobre religião
ouvido em casa, etc. Preparei-me para ser confrontada com o facto de
não termos religião e estarmos a educar a criança na heresia,
qualquer coisa desta natureza. Encaro a professora e ela com um ar
muito triste diz-me: aconteceu uma situação desagradável para o
Eduardo que tenho que lhe contar, tenho muita pena mas houve uma
"discussão" entre os miúdos sobre o Pai Natal e tive que
dizer ao Eduardo a verdade, que não existe o Pai Natal. A professora
contou-me que os miúdos começaram a falar do Pai Natal, pedir as
prendas ao Pai Natal, quem ainda acredita, quem não acredita,
aquelas coisas que os pais dizem se te portares bem o Pai Natal dá-te
uma prenda, mas é tudo mentira, são os pais que compram as prendas,
até que o meu filho diz que está tudo muito certo mas a verdade é
que o Pai Natal todos os anos vai a minha casa, tenho fotografias e
tudo! Coitadinho! Bateu-se pela sua convicção, nada como
fotografias para provar que existe mesmo! Disse à professora que
ficasse tranquila, algum dia tinha que acontecer. Tive pena que fosse
desta forma, imaginei-o sozinho contra todos a defender um facto que
nós, os pais, a irmã, o tio e as pessoas que convencemos a
vestirem-se de Pai Natal, fomos alimentando durante 5 anos. A tática
consistia em alguém que saía da sala vestia-se de Pai Natal tocava
à porta, nós dizíamos vem aí o Pai Natal, entrava cumprimentava
dava-lhe uma prenda tirávamos uma fotografia e ía embora. O miúdo
nem tinha tempo de viver a situação, era tudo muito rápido e ele
ficava em transe. Recebia uma prenda do Pai Natal, a prenda, e não
queria mais nenhuma. Desde esse ano, o primeiro ano na escola
primária, que não houve mais Pai Natal. E o Natal nunca mais teve
“aquela” magia.
Mónica
1 comentário:
Uma descrição bem real que me faz logo imaginar a cena.
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