quinta-feira, dezembro 12, 2019

8. Mónica



No primeiro ano da escola primária do meu filho, antes do Natal a professora chamou-me à escola, pensei que ía ouvir um sermão porque o meu filho não sabia quem era o menino Jesus e família (dizia ele em casa: na escola andam para lá a contar uma história de uma menino pobrezinho que nasceu no meio das vacas e que faz anos…), consequência de ser o único que não frequentava as aulas de religião e moral, ou pior, ter repetido na escola algum comentário jocoso sobre religião ouvido em casa, etc. Preparei-me para ser confrontada com o facto de não termos religião e estarmos a educar a criança na heresia, qualquer coisa desta natureza. Encaro a professora e ela com um ar muito triste diz-me: aconteceu uma situação desagradável para o Eduardo que tenho que lhe contar, tenho muita pena mas houve uma "discussão" entre os miúdos sobre o Pai Natal e tive que dizer ao Eduardo a verdade, que não existe o Pai Natal. A professora contou-me que os miúdos começaram a falar do Pai Natal, pedir as prendas ao Pai Natal, quem ainda acredita, quem não acredita, aquelas coisas que os pais dizem se te portares bem o Pai Natal dá-te uma prenda, mas é tudo mentira, são os pais que compram as prendas, até que o meu filho diz que está tudo muito certo mas a verdade é que o Pai Natal todos os anos vai a minha casa, tenho fotografias e tudo! Coitadinho! Bateu-se pela sua convicção, nada como fotografias para provar que existe mesmo! Disse à professora que ficasse tranquila, algum dia tinha que acontecer. Tive pena que fosse desta forma, imaginei-o sozinho contra todos a defender um facto que nós, os pais, a irmã, o tio e as pessoas que convencemos a vestirem-se de Pai Natal, fomos alimentando durante 5 anos. A tática consistia em alguém que saía da sala vestia-se de Pai Natal tocava à porta, nós dizíamos vem aí o Pai Natal, entrava cumprimentava dava-lhe uma prenda tirávamos uma fotografia e ía embora. O miúdo nem tinha tempo de viver a situação, era tudo muito rápido e ele ficava em transe. Recebia uma prenda do Pai Natal, a prenda, e não queria mais nenhuma. Desde esse ano, o primeiro ano na escola primária, que não houve mais Pai Natal. E o Natal nunca mais teve “aquela” magia.
Mónica

1 comentário:

M. disse...

Uma descrição bem real que me faz logo imaginar a cena.