quinta-feira, dezembro 12, 2019

11. Zambujal



A HISTÓRIA DE NATAL QUE EU CONTARIA
Era uma vez… 
Era uma vez uma criança. Que nasceu ao calor da lareira, entre duas idas da mãe à vinha. Nasceu no mesmo ano, só uns dias depois, de outra criança que nascera a 21 de Dezembro, em Lisboa. 
Cresceram a par. Pelos verões e natais, nas vindas do menino à aldeia, nas brincadeiras de pião e bola de borracha que trazia da cidade e o cachopo chutava com os pés descalços; pelas festas da padroeira, que eram depois das vindimas, beberam juntos os primeiros copos de água-pé; os olhos dos dois rapazes confundiram-se nos seios das moças que cresciam debaixo das blusas, antes mesmo das mães cuidarem de as alargar. Muito se riram os dois e tanto se encontraram nas suas diferenças.
Um dia, pelo verão, o mancebo da aldeia contou ao da cidade que não iria à guerra, que queria outra vida. No natal desse ano, o jovem que chegava de Lisboa teve a notícia que o fez chorar (então e hoje): balas da Guardia Civil tinham acabado com a vida do amigo, que tanto queria ir começar para lá dos Pirinéus. Já tão perto! 
Zambujal

1 comentário:

M. disse...

Muito bonita e significativa a ligação entre a fotografia (o lugar vazio na manjedoura) e o texto. Triste é a prepotência.