O BARCO DE PAPEL * ROCHA DE SOUSA / DESENHAMENTO
A prova, desta vez, envolve uma especial relação de meninicebrinquedo. Se eu estivesse no Algarve, na velha casa que era dos meus pais e que adquiri para preservar um património físico e cultural inestimável, talvez arranjasse qualquer coisa da época, aceitável e fotogénica. Mas tenho outras memórias imperecíveis: uma delas refere-se aos barquinhos de papel que eu fazia às meias dúzias, lançando-os, um a um, na água corrente da valeta, em dias de chuva. Debruçado na porta, largava um barco e ia a correr à janela mais à frente vê-lo navegar, aos solavancos, até o perder de vista ao longe, numa dobra da rua. Noutras situações, o belo brinquedo do barco de papel permitia-me puxá-lo por um fio, nos lagos da maré baixa, carregando-o (cientificamente) com bocadinhos de areis e pequenas conchas. A tal ciência servia para controlar o carregamento, bocadinhos de areia e pequenas conchas: o segredo estava em carregá-lo com parcimónia, para não se voltar. E, nesses casos, a construção tinha que ser mais sólida, usando papel parecido com a cartolina.
A fotografia foi solarizada para que tivesse um ar menos objectivo e mais alegremente memorialista.
9 comentários:
Ainda bem que não está no Algarve! Perderíamos uma imagem de alegria a ilustrar essa outra de um menino a brincar de marinheiro, já preocupado em fazer algo de útil, carregando conchinhas e areias.
Também eu brinquei com barcos de papel, mas limitava-me a vê-los na vala e a correr atrás deles.
Um abraço
Parabéns pela obra prima!!! O barquinho de papel, tão esquecido que estava nas minhas memórias... e pela bela foto! São 2 em 1
Agrades
As recordações de uns fazem-nos reviver as nossas. Tabém brinquei com barcos de papel mas, para meu grande desgosto, todos se afundavam rapidamente.
E assim se conquistavam pequenos mundos!
Não só brinquei com eles como tamém ensinei os meus filhos a fazê-los.
Ah os barcos de papel fazem recordar a todos muitos momentos de alegria e de tristeza. Quando o barquito ia e não voltava mais o nosso coração partia-se... :))
Excelente descrição, encantadora fotografia, e adorei ver que o barquinho foi feito com um "Diário de Lisboa" :)) de que ano? que recordações!!
Memórias preciosas, assim descritas, estou a pensar-me a dobrar o jornal para fazer os barcos... se calhar já nem sei. Mas também os fazia com cascas de árvore, um palito e um papelinho a fazer de vela...
Científica já, a mente!
A foto? Lindíssima...parece um naufrágio (em vez dum sufrágio) e bem que o Diário de Lisboa se podia ter conservado! Nos anos 60/70, o jornal chegava cá só ao fim da tarde e era esperado ansiosamente pela "malta culta" pelas notícias e os belos suplementos literários.
Também adorava quando alguém me fazia um destes barquitos de papel geralmente feitos de papel de jornal.
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